O ano é 2041, a cidade Paris. Na Torre Eiffel, faixas gigantes foram colocadas de uma viga à outra, com dizeres que quase podem ser vistos do espaço: “Obbs, Paris espera-te” ou “Obb, sem ti vamos morrer”. A filha de Obb, Gemma, é namorada (ou quase isso) do arqui-inimigo do pai, que por esta altura diz ter o corpo desvitalizado, com todos os sistemas de navegação – e outros – marados. Para Obb, que de repente se viu transformado na solução para impedir o fim do mundo e perseguido por tudo o que é coorporação e exército, Gemma é agora “a minha filha-engodo, refém de um grupo mafioso veneziano”. É para lá que Obb se dirige, na boa companhia de Junia Perth, também ela já alvo da “contaminação azul”, ainda que se mostre pouco constrangida com isso.
“Bug: Livro 2” (Arte de Autor, 2019), escrito, desenhado e imaginado de forma febril por Enki Bilal, mostra-nos um Obb já mais ou menos reconciliado com a partida que o destino lhe pregou, tentando recordar-se de como apareceu o Bug e as estranhas manchas azuis que tomaram conta do seu corpo: “Foram os radares que detectaram primeiro uma nebulosidade azul de origem indefinível, uma coisa improvável que estagnava do lado da face oculta da lua…”. Um Bug que levou a melhor sobre todos menos ele, “como se fosse uma questão de compatibilidade”.
Em Barcelona, enquanto tentam arranjar armas e carregadores de telemóvel, são abordados por “neomarxistas progressivos, promotores de um conceito antigo lançado em Moscovo em 1928, e chamado na época «A Casa do Governo»“. Um grupo que mantém a crença de que Marx, revisto e corrigido, pode voltar a tornar-se o futuro do homem.
Relativamente à nova e inevitável organização da sociedade, as visões são claramente antagónicas, como nos mostra este diálogo a três:
“– Enquanto isso, e talvez seja o primeiro ponto positivo, a humanidade reorganiza-se de forma…humanista…uma solidariedade insuspeita desenvolve-se em todos os níveis da sociedade mundial…uma reordenação radical de toda a nossa cultura política, financeira, social está em curso.
– …Com o regresso de neocomunistas, de neofascistas, de comunitaristas, de seitas que se expandem, de forças veganas cada vez mais agressivas, e de integrismos religiosos que despertam após um decénio de acalmia…? Analisamos a situação de forma bem diferente, caro amigo…
– Muitas tensões militares, também, sobretudo em África…os países com mais carências, pouco paralisados pelo Bug, recuperam o poder. A República Democrática do Congo lançou vários ataques simultâneos com armamento convencional ao Ruanda, à Zâmbia e à Tanzânia, países equipados com armas sofisticadas, actualmente inoperantes.”
Todos os elevadores do mundo estão operacionais, razão para os topos dos edifícios se terem tornado refúgios para os que conseguem lá chegar e instalar-se. Quanto ao digital, é agora algo destinado a tornar-se um mito urbano para gerações futuras. Conseguirá o homem mais procurado do mundo encontrar-se a si próprio, salvar a filha e fazer com que o planeta não vá desta para melhor aos tiros? Para descobrir, brevemente, no Livro 3.
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