Situadas num mundo fictício onde a magia dá cartas, os animais falam, o Inverno parece durar para sempre e os roupeiros vão dar a dimensões paralelas, As Crónicas de Nárnia foram escritas na década de 1950 pelo irlandês C.S. Lewis. Uma saga em sete livros, que contou com as ilustrações de Pauline Baynes, apresentada a Lewis pelo mestre dos mestre J.R.R. Tolkien.
Uma saga que teve, ao longo do tempo, várias adaptações, ganhando um novo fôlego após a chegada ao grande ecrã há uns bons anos atrás. Os livros têm sido passados de geração para geração e, quase 75 anos depois, continua a ser uma delícia revisitar este mundo.
“O Sobrinho do Mágico” (Editorial Presença, 2021 – reedição), livro que escapou à adaptação cinematográfica, é uma peça fundamental da saga, como avisa desde logo o primeiro parágrafo: “Esta história é sobre uma coisa que se passou há muito tempo, quando os vossos avós eram pequenos. É uma história muito importante porque mostra como começaram as idas e vindas entre o nosso mundo e o reino de Nárnia”.
Estamos em Londres, num frio e chuvoso Verão. Diggory vive, infeliz, com a troca do campo por uma cidade a que chama de “buraco”, obrigado a viver com o seu tio Andrew e o seu “odioso sorrido”. Para além de lhe proibir o acesso ao escritório e de ter um ar absolutamente lunático, o tio esconde a faceta de mágico malvado.
Na companhia de Polly, que se tornará na sua confidente e melhor amiga, irá ver-se atirado para outro mundo, onde irão conhecer Jordis, a última rainha, que por desavenças com a irmã levou à ruína uma grande cidade conhecida como Charn. Jordis, que revelará ser tão lunática quanto o tio de Diggory, contará à dupla o segredo dos segredos, ligado à Palavra Execrável.
Um livro que nos apresenta ao mágico mundo de Nárnia – “Nárnia, Nárnia, Nárnia, acorda. Ama. Pensa. Fala. Sê as árvores que caminham. Sê os Animais Falantes. Sê as Águas divinas” -, e que é, também, sobre o desejo do poder absoluto, o livre-arbítrio, a morte, o sentimento de impunidade e a tirania que governa o mundo. É também aqui que iremos conhecer a incrível origem do guarda-roupa, o objecto fundamental do segundo livro da saga.
“O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa” (Editorial Presença, 2021 – reedição), livro mais conhecido da saga graças à sétima arte, transporta-nos até à Segunda Guerra Mundial, quando Peter, Lucy, Edmund e Susan são obrigados a sair de Londres para ficarem em segurança numa pequena cidade em Inglaterra, na casa de um professor solteirão. “Era o género de casa que parece não ter fim e estar cheia de sítios inesperados”. Enquanto exploram a mansão, Lucy irá descobrir um guarda-roupa mágico, que a levará para um mundo onde irá conhecer o fauno Tumnus, que lhe conta “coisas acerca das danças da meia-noite, de como as Ninfas que viviam nas nascentes e as Dríades que viviam nas árvores apareciam para dançar com os Faunos; acerca de longas caçadas a um veado, branco como o leite, que podia satisfazer os desejos de quem o capturasse; acerca de festins e buscas de tesouros com os Anões Vermelhos em minas e cavernas profundas muito abaixo do solo da floresta; e, por fim, falou do Verão, quando os bosques ficavam verdes e o velho Sileno no seu gordo burro os ia visitar, e por vezes o próprio Baco, na altura em que era vinho, e não água, que corria nos regatos e toda a floresta se entregava a folguedos durante semanas a fio”.
A razão para Nárnia viver num perpétuo Inverno deve-se à Feiticeira Branca, e só o regresso sonhado com Aslan, o criador solar das terras de Nárnia, poderá pôr fim a um regime de tirania – e frio como tudo. O livro onde tudo começou e que, entre outras coisas, nos dá conselhos tão úteis como deixar sempre fechada a porta do guarda-roupa ou limpar a espada depois de se lhe dar uso. Os restantes cinco livros estão já publicados pela Editorial Presença, numa reedição que teve direito a novas capas.
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