Há muitos livros que falam do valor da amizade e – nem tanto – da loucura das colecções, mas poucos o terão feito com a ternura e o espanto gráfico e visual de “Os Tesouros do Leopoldo” (Fábula, 2022), escrito e desenhado por Deborah Marcero.
O pequeno herói desta história dá pelo nome de Leopoldo, um coelho dado a coleccionar em frascos todo o tipo de coisas. Coisas como folhas e outras “coisas pequenas e comuns”, arrumadas em frascos que, para ele, são como diários engarrafados ou repositórios de memórias. “Quando espreitava para dentro dos seus frascos, lembrava-se das muitas coisas maravilhosas que vira e fizera”. A sua vida solitária vê-se agitada quando conhece a também pequena Clementine, numa noite em que “o pôr do sol pintou o céu da cor do doce de cereja”.
Um livro poético, tocante e muito poético sobre a saudade, a amizade, o amor, sobre a necessidade de se regar o que se plantou e a urgência de se estar sempre aberto a novas amizades. E que acaba, numa das muitas possíveis leituras, por servir de homenagem aos correios, à troca de cartas e às encomendas que circulam como gestos de amizade.
As ilustrações são incríveis, espantosas na forma como a ilustradora trabalha as páginas, todas elas muito diferentes no que toca a cores, à ocupação do espaço e à disposição dos elementos. Há páginas duplas, outras que se assemelham a livros de BD, sempre com as 4 estações como pano de fundo. O mar, o céu e o quarto do Leopoldo ficarão gravados na memória do leitor, e é assombroso aquilo que a ilustradora consegue fazer com os frascos, transformando-os em molduras vivas. Um livro belíssimo.
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