Há muito tempo, num reino tão distante e tão desconhecido que não fazia parte de qualquer mapa ou registo cartográfico, um choro poderoso começou a ecoar por vales e montanhas, tomando conta das ruas e enchendo de preocupação o coração dos habitantes.
Encarando o assunto como uma pequena calamidade pública, pais e mães tentavam descobrir porque é que, “depois de dormir a noite inteira como um anjinho”, o pequeno rei “estava agora a berrar a plenos pulmões”.
Os tradutores oficiais do reino, portadores de todo o conhecimento enciclopédico e que sabiam de cor os dicionários do A ao Z, tudo faziam para decifrar a origem das lágrimas, mas o caso era realmente sério. Os palpites, esses, não faltavam: Terá fome? Sede? Estará com frio? Ou será que está demasiado calor? Terá cocó na fralda? Estará doente? A loucura é tanta que chegam mesmo a mandar vir o maior termómetro do mundo, puxado por uma legião de animais, mas o problema está longe de ser médico. Até que, graças a um puro acaso, se descobre que facilmente o choro poderá dar lugar ao riso.
Com texto de Ana Leonor Tenreiro e Pedro da Silva Martins, “Porque Chora o Rei?” (Oficina do Livro, 2015) é uma divertida metáfora sobre os pequenos reis que, na sua aparente pequenez e fragilidade, se tornam de forma absoluta nos gigantes das nossas vidas. E, claro, sobre o médico/curandeiro/adivinhador que há em cada um.
As ilustrações de João Fazenda, de cores vivas e dando particular atenção às cambiantes das expressões humanas, captam na perfeição os sentimentos de preocupação, mobilização e alívio a que os pais se entregam na mais estonteante, assustadora e extraordinária aventura humana: a da criação.
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