“Mãe para Jantar” (Guerra & Paz, 2022), um livro surreal com raspa de Alain Chabat, pretende incomodar. Como? Não apenas com as descrições pormenorizadas de como os canibais-americanos, como o autor lhes chama, devem preparar a carne da mãe após a sua morte, com drenagens, purgações e cortes, mas com a satirização dos velhos costumes, das tradições e dos hábitos religiosos seculares.
Esta sátira hiperbólica, como lhe chamam, tem aquelas camadas (ao estilo gastronómico) de que os leitores do género tanto gostam: a cada acontecimento, decisão e crítica que o livro apresenta, uma mensagem subliminar se revela.
Falando da tribo de canibais norte-americanos, nunca esquecendo outras tantas que por aí andam, o autor justifica o presente com o passado, com aquilo que nos trouxe até ao momento e que justifica cada uma das nossas acções (mais ou menos) quotidianas, relembrando a facilidade com que, sociologicamente falando, todos nos encontramos em grupos que nos mantêm identificáveis e seguros.
O absurdo reina, pois, em “Mãe para Jantar”, de forma pouco convencional e quiçá um pouco tétrica. A mãe morre mas, para que a família possa herdar a sua fortuna e manter a alma da mãe viva, devem comê-la. Os costumes devem ser respeitados. The show must go on. A grande questão é fácil de identificar: o passado deve definir o presente e o futuro? Com ou sem falácia, mas com muito humor, o resultado é tremendamente divertido.
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