“Macho-Alfa 1” (A Seita, 2021) foi lançado durante o festival Amadora BD 2021, o primeiro de quatro volumes de uma série que conta com argumento e colorização de Filipe Duarte Pina e desenhos de Osvaldo Medina. Uma história que esteve a marinar na gaveta de Pina até ficar no ponto, e que conta as desventuras de um super-herói pouco comum: tem sérios problemas com as finanças, um ainda mais sério problema de gestão de raiva e, basicamente, dá cabo de tudo aquilo em que toca, revelando estranhas noções de justiça ou heroísmo.
Sem autorização policial e fintando os média, que recordam as duas pessoas mortas na última operação, o Sr. Alfa chega a um cenário que envolve reféns, tendo à sua espera cartazes motivadores como “Faz-me um filho!”. As opiniões, aliás, são extremadas quanto a este super-herói. Se um dos reféns mostra a estranheza da situação com um “Só faltava este parvo…”, também um dos sequestradores não deixa de opinar no mesmo comprimento de onda: “Não te tinham dito para parares com esta estupidez de salvares pessoas?”.
A vida para além do heroísmo é, porém, bem diferente (ou talvez nem por isso). Na vida real, o Sr. Alfa é David, um tipo sem emprego – acha-se demasiado bom para tal – que deixa à mulher as tarefas de tratar da casa, das compras e de…bem, basicamente de tudo. Mulher essa que anda com as pernas tortas, com os parafusos a dar de si enquanto espera por uma cirurgia.
A solução para todos os males – sobretudo financeiros – aparece sob a forma de um reality show, onde David – ou o Sr. Alfa – não põe de lado a sua veia de macho, desprezando o próprio público: “Cabe-me a mim, o super-herói, libertá-los da sua própria estupidez”. Incapaz de controlar a sua super-força, David revela-se um puto parvo que se tornou adulto apenas na idade.
As páginas finais deste primeiro volume apresentam todo o processo criativo: os primeiros esboços, a composição ao estilo de um storyboard, a chegada à arte final, o universo das cores base antes de se tornarem definitivas – da terceira para a quarta fase as variações são incríveis. O traço de Osvaldo Medina é preciso, sem grandes artifícios mas com um dinamismo um pouco ao estilo da Cruisiana Missão Impossível. Temos macho (num impossível bom sentido).
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