“Há muitos séculos que existem pessoas que lêem mãos como se fossem livros e, tal como os livros, as mãos são únicas e contam histórias diferentes.”
A frase que serve de tecto a esta crítica foi retirada de “A Senhora Clap e o Mundo na Palma das Mãos” (Planeta, 2015), livro escrito por Marta Duque Vaz e que conta com ilustrações de Alexandre Esgaio.
Porém, ao contrário dos muitos professores mambos e carambas deste mundo, que deixam com uma frequência irritante papéis nos pára-brisas dos carros, a Senhora Clap tem um dom que está ao nível de um estranho X-File: quando bate palmas, abre muito os olhos. Tanto, tanto, que se vê tudo dentro dela, ficando totalmente transparente do lado esquerdo.
Este não é, contudo, um dom nascido do acaso, mas algo que tem sido passado de geração em geração pela família da Senhora Clap. Fascinada – e sobretudo intrigada – com os efeitos que o bater de palmas pode ter do outro lado do mundo, um pouco à semelhança do bater de asas das borboletas, Clap decide tornar-se investigadora de uma nova área do saber: a Aplausologia.
Do seu diário começam a constar observações como “todos são capazes de bater palmas, até mesmo os mais preguiçosos”, conselhos como “nunca obedecer a tabuletas que dizem aplaudir” – muita atenção programas da tarde! -, ou, ainda, máximas tão certas como esta: “É preciso que se aplauda com espanto e privilégio”.
Aos poucos, a Senhora Clap começa a ganhar uma fama planetária, sendo capa de jornais e revistas e recebendo convites para dar conferências um pouco por todo o mundo, tentando desvendar por que razão as pessoas batem palmas entre situações tão díspares quanto o são a alegria e a tristeza.
Com muita imaginação e melancolia, Marta Duque Vaz escreveu um livro que é um elogio à celebração da vida, e que nos ensina que a alegria e a tristeza são as duas caras de uma moeda com um tempo demasiado curto para circular no mercado das emoções, que merecem ser celebradas com alma pelas palmas das mãos.
Da próxima vez que visitar uma Biblioteca, tente encontrar o Tratado Universal sobre a Arte de Bater Palmas em Situações Alegres ou Tristes, esse livro raro deixado ao mundo, como um legado, pela Senhora Clap. E, se por acaso o encontrar, aplauda bem alto, mesmo que os cartazes não peçam mais do que apenas silêncio.
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