Encarnando o espírito de Mario Puzo e do seu Padrinho, a Arte de Autor prossegue a publicação da saga da família italiana Centobucchi, radicada na Nova Iorque dos anos (19)30. Uma família composta por 5 irmãos pouco comuns: um mafioso cruel, um padre torturado, um polícia inflexível, uma actriz com mais corpo do que talento e uma mãe de família que, nos tempos livres, trabalha como assassina contratada.
“Spaghetti Bros 3” (Arte de Autor, 2022), que reúne os tomos 9 a 12 da colecção, começa por nos apresentar a Gino. Um rapaz novo que perdeu o pai, apanhado por uma bala perdida, e que irá trabalhar para Amerigo Cantobucchi como espião da família Rimizzi. Um puto esperto que, sem ter lido muitos livros de espionagem ou trabalhado para o músculo, irá conseguir safar-se à boleia de um mantra que bem poderia ser suíço: “Ganha-se muito mais mantendo-nos neutros do que seguindo um desses bandidos”.
Os tempos são de guerra quase aberta e, por esta altura, os irmãos McCullen estão bem mais fortes que o gangue de Cantobucchi, depois de terem garantido o apoio dos “negros” para a causa. Os trabalhadores vão ameaçando fazer greve nas docas e, pela cidade, passeia tranquilamente Don Gaetano, um usurário do pior, agiota de fato, gravata e chapéu de coco, capaz de tirar até um padre do seu juízo.
Quanto à irmandade, Gipsy tem pesadelos recorrentes sobre ser esquecida como actriz, vivendo farsa atrás de farsa enquanto o cinema mudo vai dando lugar ao cinema falado; pesadelo é, também, o estado de espírito de Carmela, que por falta de experiência – pelo menos no universo do trabalho legal – não consegue arranjar emprego; Tony, metido numa encrenca sentimental de todo o tamanho, tenta salvar da morte um amigo de infância que, cumprindo à risca os jogos de criança, decidiu na vida ser mais ladrão que polícia; Frank continua a duvidar na fé, certo de que “Deus está em todos os lados… mas nalguns, estou certo de que está menos”; e, quanto a Amerigo, pouco há de novo, a não ser o desejode se tornar o Marlon Brando lá do sítio (mas sem ponta de estilo ou olho estratégico).
Uma saga a preto e branco, que nos atira para o centro de uma teia de relações onde domina a caricatura, o exagero e o caos absoluto, sempre numa animada fervura. O final do volume, que pode ler-se como uma homenagem ao segundo filme da trilogia de Coppola, deixa água na boca para o quarto e último volume. Vai haver sangue. Litros dele.
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