Indo contra a teoria de que as crianças não passam de uns anjinhos corrompidos, há desejos que parecem nascer impressos no código genético. Fala-se, por exemplo, de tendências como o desejo de protagonismo ou a sede de poder que, vai-se a ver, chega a nascer mesmo antes da gente catraia aprender as primeiras palavras. “Os Donos do Recreio” (Bizâncio, 2021), álbum para crianças escrito e ilustrado por Joseph Kuefler, mostra-nos o dia em que, sentindo-se inspirado, o João decide tornar-se “o dono e senhor do recreio” da escola.
Perante a promessa – ou a retenção – de escorregas, todos os catraios prometem uma cega obediência em troco de brincadeira. Todos menos a Leonor, que secretamente mantém também a ambição de se tornar a dona do recreio, decidindo tomar para si metade do recreio, ficando com a zona dos balouços. Uma espécie de “A Guerra das Rosas” mas sem a componente do romance, com o recreio divido ao meio através de esquemas e mapas elaborados.
Joseph Kuefler apresenta à pequenada alguns sentimentos menos nobres, mas também a importância da desobediência – mais tarde poderão ler Thoreau e o seu tratado sobre a importância da desobediência civil – e a revolução que mora em cada um de nós. Nas ilustrações destacam-se os grandes planos do rei e da rainha, no processo que leva da coroação à abdicação – e, claro, à repetição de todo o processo.
Joseph Kuefler vive no Minesota com a sua mulher e os filhos Jonah, Lennox e Augustine. É também o autor e ilustrador de “No Fundo do Lago” e “A Escavadora e a Flor”, ambos com edição nacional pela Bizâncio.
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