“Imaginar é atirar com erros ao cérebro. Este livro é um erro no cérebro. (…) Foi escrito ao sabor das ilustrações, sem saber muito bem para onde ia”. As palavras pertencem a Patrícia Portela, a autora destas irreverentes “Seis histórias de tamanhos diferentes que me aconteceram ao mesmo tempo” (bruáa, 2021), cabendo as ilustrações, com traço, cor e assinatura inconfundíveis, a Catarina Sobral.
Em “A Viagem”, a falta de energia é, mais do que uma lembrança de uma visita ao quadro eléctrico, uma lembrete de que é tempo de sair de casa e fazer uma grande viagem; “O Meu Pai-Árvore” mergulha na nostalgia e destaca, nas sempre pouco lineares relações, os enganos carinhosos; em “Fazer figura de urso”, releva-se um mantra que reza mais ou menos assim: para pensar melhor, é preciso sair para voltar depois a entrar. Há circo, ginger ale e exposições, numa história onde as Ficções do mestre Jorge Luis Borges têm o gosto da última bolacha do pacote; “Morrer de vergonha” ensina técnicas para contornar a vergonha, que envolvem submarinos, plantas carnívoras e passeios à beira-mar; “Uma consideração” vai de encontro à ideia de que a cabeça é, por vezes – muitas vezes -, o lugar mais difícil de abandonar; a fechar temos “Noutro dia”, um final feliz de uma história que corre em paralelo com o clássico O Rei vai nu.
As ilustrações são de traço grosso, com o preto bem vincado, permitindo às outras cores uma lenta dança – talvez uma valsa -, num livro com uma costela de BD onde há árvores e montanhas, barcos e naves espaciais, pássaros e ursos. E, claro, muita imaginação à solta.
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