Curtas da Estante é uma rubrica de divulgação do Deus Me Livro.
Sobre o livro
Uma bebedeira com Pablo Neruda, uma reunião política com Picasso, uma visita ao bordel ou ao terreiro de candomblé com Carybé ou Dorival Caymmi, os últimos dias de Glauber Rocha, o pedido de casamento de Miúcha feito em nome de João Gilberto – dezenas de episódios são relembrados com ternura e humor por Jorge Amado, que escreveu “Navegação de Cabotagem” (1992) na véspera de completar oitenta anos.
Com a serenidade e a sabedoria de quem viveu as maravilhas e os horrores do século XX, o escritor passa em revista momentos marcantes da sua vida, das paixões de juventude à glória literária mundial, da militância política apaixonada à desilusão com o sonho comunista, transformado em pesadelo totalitário. O exílio, as amizades, os amores, a aprendizagem da cultura popular nas fazendas de cacau, nos prostíbulos, tudo se mistura nestas páginas vibrantes.
Este livro pode ser lido como uma sucessão de vívidas cenas de um filme ao mesmo tempo épico, lírico e cómico. Recordando com franqueza e fina autoironia a sua trajetória de êxitos e obstáculos, de encontros e equívocos, com Navegação de Cabotagem Jorge Amado insere-se a si próprio, por fim, na sua rica galeria de inesquecíveis personagens.
Sobre o autor
Jorge Amado nasceu em Pirangi, Baía, em 1912 e faleceu a 6 de Agosto de 2001. Viveu uma adolescência agitada, primeiro, na Baía, no início dos seus estudos, depois no Rio de Janeiro, onde se formou em Direito e começou a dedicar-se ao jornalismo. Em 1935 já se tinha estreado como romancista com “O País do Carnaval” (1931), “Cacau” (1933), “Suor” (1934), seguindo-se “Terras do Sem Fim” (1943) e “S. Jorge dos Ilhéus” (1944). Politicamente de esquerda, foi obrigado a emigrar, passando por Buenos Aires, onde escreveu “O Cavaleiro da Esperança” (1942), biografia de Carlos Prestes, depois pela França, pela União Soviética, regressando entretanto ao Brasil depois de ter estado na Ásia e no Médio Oriente. Em 1951 recebeu o Prémio Estaline, com a designação de “Prémio Internacional da Paz”. Os problemas sociais orientam a sua obra, mas o seu talento de escritor afirma-se numa linguagem rica de elementos populares e folclóricos e de grande conteúdo humano, o que vai superar a vertente política. A sua obra tem toques de picaresco, sem perder a essência crítica e a poética. Além das já citadas, referimos, na sua vasta produção: “Jubiabá” (1935), “Mar Morto” (1936), “Capitães da Areia” (1937), “Seara Vermelha” (1946), “Os Subterrâneos da Liberdade” (1952). Mas é com “Gabriela, Cravo e Canela” (1958), “Os Velhos Marinheiros” (1961), “Os Pastores da Noite” (1964) e “Dona Flor e os Seus Dois Maridos” (1966) em que o romancista põe de parte a faceta politizante inicial e se volta para temas como a infância, a música, o misticismo popular, a turbulência popular e a vagabundagem, numa linguagem de sabor poético, humorista, renovada com recursos da tradição clássica ligados aos processos da novela picaresca. O seu sentimento humano e o amor à terra natal inspiram textos onde é evidente a beleza da paisagem, a tradição cultural e popular, os problemas humanos e sociais – uma infância abandonada e culpada de delitos, o cais com as suas misérias, a vida difícil do negro da cidade, a seca, o cangaço, o trabalhador explorado da cidade e do campo, o “coronelismo” feudal latifundiário perpassam significativamente na obra deste romancista dos maiores do Brasil e dos mais conhecidos no mundo. Fecundo contador de histórias regionais, Jorge Amado definiu-se, um dia, “apenas um baiano romântico, contador de histórias”. “Definição justa, pois resume o carácter do romancista voltado para exemplos de atitudes vitais: românticas e sensuais, a que, uma vez por outra, empresta matizes políticos”, como diz Alfredo Bosi em História Concisa da Literatura Brasileira. Foi-lhe atribuído o Prémio Camões em 1994.
Editora: D. Quixote
Sem Comentários