A realização de mais uma conferência internacional dedicada às mudanças climáticas convida a ler um novo volume da colecção Ensaios da Fundação, intitulado “Riscos Globais e Biodiversidade” (Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2021), de Maria Amélia Martins-Loução.
Como explica a autora, doutorada em Biologia, presidente da Sociedade Portuguesa de Ecologia e investigadora no Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Climáticas da Universidade de Lisboa, o termo biodiversidade, equivalente a diversidade biológica, “refere-se a qualquer nível de variabilidade existente entre seres vivos, incluindo a diversidade genética dentro da mesma espécie, em espécies diferentes e ecossistemas”. A sua perda implica riscos para a Humanidade, pois reduz a resiliência dos ecossistemas face a pragas, incêndios, tempestades e outros fenómenos climáticos, pondo em causa a segurança alimentar. Embora a crise climática receba mais atenção política, mediática e social, este livro deixa bem clara a sua associação à destruição da biodiversidade, devendo os dois temas ser abordados em conjunto.
Um sector apontado como responsável por grande parte da redução da biodiversidade ao longo das últimas décadas, ao mesmo tempo que tem vindo a contribuir para o efeito de estufa, é a agricultura. Assegurar alimento à população sem aumentar a pressão ambiental sobre o planeta será um dos grandes desafios do futuro, tornando imperativo um melhor ordenamento territorial, bem como um combate acérrimo contra o desperdício alimentar e a favor da economia circular, pois só assim será possível um desenvolvimento sustentável.
Embora a autora considere a tecnologia muito útil, não acredita que ela resolva a questão climática e a perda da biodiversidade, por isso apela a uma mudança fundamental no pensamento e nas práticas económicas. Em simultâneo, explica como é importante estudar a complexa teia de dependências entre espécies nos ecossistemas naturais e avaliar os riscos que ameaçam a biodiversidade, de maneira a “maximizar a sobrevivência das espécies e racionalizar os recursos humanos e financeiros”. Também são indicadas estratégias para preservar a biodiversidade, as quais, se forem bem implementadas, poderão ser eficientes, económicas e potenciadoras do bem-estar humano e ecológico.
Sendo assumido que esta obra é “uma pequena súmula” de trocas de ideias, aulas, comunicações em conferências e escritos compilados ao longo dos anos, talvez fosse possível aperfeiçoá-la, através de uma restruturação que transferisse a definição de biodiversidade da sua segunda metade para o início e eliminasse redundâncias. Apesar desta crítica, estamos perante uma leitura muito relevante, que nos alerta para a urgência de encararmos a conservação da biodiversidade como uma “medida de minimização dos riscos globais planetários que o Homem induziu ao longo da sua evolução”.
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