Os romances fantásticos de Juliet Marillier são, com frequência, tão empolgantes que se torna difícil interromper a leitura. Tal é o caso do seu mais recente livro publicado em Portugal, intitulado “Dança com o Destino” (Planeta, 2021).
Trata-se do segundo volume da saga Bardos Guerreiros, onde acompanhamos as aventuras de dois irmãos, uma rapariga e um rapaz, chamados respectivamente Liobhan e Brocc. Apesar de serem ambos dotados para a música e a narração de histórias, ambicionam tornar-se também guerreiros de elite, partindo da sua terra para receberem treino especial, militar e de espionagem na Ilha dos Cisnes.
No primeiro volume, uma “estranha e misteriosa sequência de acontecimentos” deixou Brocc no Outro Mundo, que não corresponde à morte mas sim a uma espécie de reino das fadas, habitado por seres variados e repleto de caminhos mutáveis que podem conduzir a outros universos. Contudo, isto não o impede de continuar a ser uma figura activa na história.
Liobhan, por sua vez, prosseguiu a sua formação e integrou o grupo de “quatro guerreiros aptos a juntar-se à força permanente da ilha”. Embora a maioria da população seja do sexo masculino, as mulheres são aceites e predomina um ambiente de boa camaradagem, pelo que os quatro são também verdadeiros amigos. No início deste volume, encontramo-los a comemorarem o seu sucesso e a disputarem um prémio, mas a competição é interrompida por um acidente que deixa cego um deles, Dau. Aos 19 anos, o jovem filho de um chefe de clã sente que “ficou destruído no momento exacto em que alcançava o seu objectivo”.
A situação é delicada, pois uma parte das actividades da ilha é secreta e não convém receber atenções que ameacem o futuro da comunidade. Dau é obrigado a voltar para um lar onde foi atrozmente maltratado em criança e Liobhan, conhecedora do passado do camarada, assume a responsabilidade pelo acidente e aceita a pena de um ano de servidão junto da família dele. É assim que esta jovem corajosa, que adora pôr-se à prova, enfrentará um novo desafio: suportar a perda da liberdade ao mesmo tempo que protege alguém que não é fácil de ajudar, num lugar que esconde os seus próprios segredos e que os conduzirá numa dança perigosa com o destino.
Marillier não resiste a introduzir um toque de sobrenatural, mas as relações humanas são o grande motor da narrativa, que progride sob a perspectiva alternada das três personagens principais, Liobhan, Dau e Brocc, cuja caracterização psicológica é excelente. A música também desempenha um papel especial, enquanto fonte de vários tipos de magia, incluindo o poder de animar o espírito humano e aproximar as pessoas. O resultado é uma combinação deliciosa de intriga e fantasia de inspiração celta, que termina com a resolução de vários problemas, deixando pendente uma quantidade razoável de questões – desde um romance até uma ameaça de origem misteriosa que se desloca livremente entre mundos – para aguçar o interesse dos leitores pelo terceiro volume da saga.
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