Levou para casa os prémios Guardian Children’s Fiction Award e Booktrust Teen Prize e, à boleia do estatuto de bestseller, chegou às salas de cinema numa produção cinematográfica da Lionsgate, com Tom Holland e Daisy Ridley nos principais papéis.
Assinado por Patrick Ness, “A faca que nos une” (Gailivro, 2021) é o primeiro volume da trilogia Chaos Walking, que nos transporta a um estranho lugar chamado Prentisstown. Um lugar onde apenas existem homens, isto desde que todos os seus habitantes ficaram infectados com o vírus do Ruído. Para além de fazer com que exista sempre um barulho irritante na cabeça de cada um, este vírus possibilita ouvir os pensamentos uns dos outros, o que torna (quase) impossível manter segredos. Aqui até os animais falam, algo que com o tempo se vai tornando irritante – imaginem um cão a pedir comida ou para ir à rua vezes sem conta. Segundo Aaron, o muito fundamentalista padre de serviço, “o ruído denuncia-te. Denuncia-nos a todos”.
Segundo reza a lenda, foram os Spacks que soltaram o vírus do Ruído, que matou metade dos homens e todas as mulheres – incluindo a mãe de Todd Hewitt, o pequeno protagonista da série, que está a meses de se tornar um homem – o que, por aqui, acontece aos 13 anos. O manda-chuva da cidade é o Presidente Prentiss, que alegou que os livros eram prejudiciais e os queimou a todos, abolindo também a escola. Com 147 habitantes, Prentisstown é constituída por uma loja, um bar, um centro de saúde, uma prisão, uma esquadra, uma casa grande – para o Presidente -, uma bomba de gasolina fechada e uma igreja.
É também um lugar onde, desde cedo, se descobre o amor ao campo e a aversão à cidade: “O que se ouve aqui é diferente porque é só curiosidade, bichos a tentar descobrir quem somos e se somos perigosos. Ao passo que a cidade sabe tudo sobre nós e quer sempre saber mais, quer torturar-nos com o que ela sabe até não restar nada de privado”. Apesar da tenra idade, Hewitt sente que há algo de sinistro e misterioso em relação a Prentisstown, e verá a sua vida mudar quando encontra um lugar num estado de absoluto silêncio, onde se esconde algo que não deveria existir no mundo que lhe foi vendido: uma rapariga.
A história de Patrick Ness tem tanto de emoção como de susto, fazendo-nos escutar o incessante Ruído e levando-nos, na companhia de Todd e Viola, numa demanda pela Liberdade, por entre um cenário distópico enquanto se vai entoando um mantra: “Conhecer a mente de um homem não é conhecer o homem”. O livro inclui ainda, no final, o conto “O Novo Mundo”, que Ness criou de modo a ser lido de forma independente, e que é um excelente cartão-de-visita ao mundo de Chaos Walking.
Nota: um pequeno reparo à tradução/revisão – neste caso, à adaptação para português a partir da tradução brasileira -, que apresenta expressões como “à bocado”, “existesse” ou “não te esqueça de que te amo”. Que os próximos volumes sejam revistos com olho de lince.
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