Bem-vindos a um lugar estranho e misterioso: a Planície do Medo. Neste ermo esquecido, pedras altas falam como papagaios; recifes de coral venenosos levantam-se no meio do deserto; baleias sobrevoam a paisagem como nuvens vivas; e tempestades fulminantes transformam pessoas em monstros.
É nesta geografia peculiar que começamos “A Rosa Branca” (Saída de Emergência, 2020), o volume final da trilogia As Crónicas da Companhia Negra. Companhia que assentou arraiais na planície, num covil com o nome pouco abonatório de “O Buraco”. A liderar as operações está a rebelde Amorosa, conhecida como Rosa Branca, o rosto visível da guerra contra a maléfica Senhora. As duas facções estão, no entanto, condenadas a entender-se por causa da ameaça do cativo Dominador – se ele se libertar da clausura, está tudo estragado.
Neste novo volume da fantasia épica escrita por Glen Cook, a trilogia chega, esfalfada, ao seu término. A acção divide-se por três pontos de vista diferentes: por um lado acompanhamos o Físico, velho e desanimado guerreiro da Companhia Negra, ao serviço da Rosa Branca; por outro, voltamos atrás no tempo para acompanhar o feiticeiro Bomanz na sua busca de poder – a sua imprudência viria a libertar a Senhora do seu túmulo. Por fim, tentamos compreender o papel do sinistro Corbie, e o que procura ele na Terra dos Sepulcros, onde jaz enterrado o Dominador e o seu exército das trevas.
“A Rosa Branca” é um livro surrealista, mais desconcertante que os dois volumes anteriores: a atmosfera noir dá lugar a uma narrativa fantástica de cores garridas. Surgem novos e curiosos personagens – como o Batedor e o Cão Mata-Sapos -, outros reaparecem em grande forma – caso dos carismáticos feiticeiros da Companhia, o Duende e o Zarolho, em guerra permanente um com o outro.
Autor de culto, Cook tem o mérito de, nos anos 80 do século passado, ter trazido para a fantasia um olhar cru, realista, diferente dos contos de fadas, princesas e ogres. O seu ponto de vista é o de um soldado raso, e a Companhia Negra não é mais do que um batalhão composto por homens vulgares de moral duvidosa, confrontados com eventos para além do seu controlo. O livro vai aumentando a tensão em lume brando até ao desfecho, com um chorrilho de reviravoltas, traições, flechadas e decapitações: um fartote.
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