“Lola” (Suma de Letras, 2021), o primeiro romance de Cátia Vieira, surpreende pela forma como retrata a geração actual dos jovens antes dos trinta anos – à qual pertence a autora. Uma geração descrente, desencantada e incerta sobre que rumo deve (e pode) seguir na vida, tanto profissional como afectivamente. Olhando a similitude de percursos académicos da autora e da personagem principal (Lola), questiona-se o quanto autobiográfico será este romance.
A cidade do Porto serve de ponto de encontro e de convívio a uma geração Millenium, politicamente atenta, atenta às redes sociais e que sabe retirar da tecnologia o melhor que esta tem para oferecer, mesmo que sujeita a alguns preconceitos e à ideia de viver numa “preguiça existencial”.
A forma como Lola vive e se move no quotidiano portuense – entre a biblioteca da Universidade, a sua máquina fotográfica olympus, o convívio com (poucos) amigos, o amor (entre o Tinder e Pedro, um conhecido orgânico), a difícil relação com a mãe (feminista socialmente destacada) e os pesadelos nocturnos -, retrata fielmente a vida da geração a que pertence, insatisfeita mas, simultaneamente, com acesso a tudo.
Lola é uma nativa digital, multicultural, tolerante, filha da globalização, que dá preferência à experiência e não à posse. Tem, também, uma necessidade constante de mudança, exigindo desafios que contrariem a monotonia. Quando surge a hipótese de um projecto de investigação em Madrid para o seu doutoramento, Lola muda-se para a cidade espanhola. Um lugar onde, entre uma semi-hibernação e consultas de psicoterapia, se irá confrontar com o marasmo existencial e a raiz das suas (múltiplas) ansiedades.
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