Já tínhamos sido apresentados ao seu sentido de humor, dotado de um espírito doce ou travessura, no álbum “Um Capuchinho Vermelho” (ler crítica aqui), onde se atirou a um dos clássicos mais adaptados do universo dos contos e fábulas com muita originalidade e ainda mais pinta, recorrendo a ilustrações simples e minimalistas, de traço assumidamente imperfeito, desenhadas a duas cores – preto e vermelho –, que serviram não apenas para desenhar as personagens como, também, para servir os diálogos mínimos que se iam desenrolando entre as duas personagens.
Um sentido de humor e um olhar travesso que se mantêm vivos em “Abril o peixe vermelho” (Orfeu Negro, 2021), álbum onde um peixe vermelho, muito vermelho, se depara com grandes sonhos mas muito pouco espaço para os concretizar. Um peixe, chamado Abril, dado a colocar a si próprio as “questões espinhosas” da vida, como a escolha difícil, filosófica e algo Shakespeariana: ser ou cozer?
Um livro sobre a vontade de fugir e a força de mudar, sobre o que fazer com as limitações e de como a capacidade de invenção pode, havendo espírito para tal, transformar uma vida. As ilustrações fazem-se a lápis de cor, com letras desenhadas à mão e pormenores refinados como uma etiqueta com recomendações de lavagem no aquário ou três fileiras de aquários que simbolizam a linha temporal humana. Delicioso.
Marjolaine Leray vive em Paris. É designer gráfica e ilustradora, tendo já recebido vários prémios pelos seus livros para crianças. Recebeu, em 2018, o Prémio Amadora BD de Melhor Ilustrador Estrangeiro pelo álbum “Um Capuchinho Vermelho”, publicado na colecção Orfeu Mini.
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