“Conforma a Roda gira, as Eras iniciam-se e extinguem-se, sucedendo-se umas às outras. Cada uma delas deixa recordações que se convertem em lendas, depois, em mitos, e acabam por ser esquecidas até essa Era regressar de novo. Numa Era, chamada por alguns a Terceira Era, uma Era que ainda há-de vir, uma Era há muito passada, um vento levantou-se nas montanhas da Bruma. Esse vento não foi o começo. Não há princípios nem fins no girar da Roda do Tempo. No entanto, foi um começo.”
A Roda do Tempo é um dos épicos maiores – e mais longos – da literatura fantástica, que implicou qualquer coisa como 22 anos, 11 meses e 24 dias para ficar completo. Um empreendimento para o qual foi ainda necessária uma mãozinha de Brandon Sanderson, convidado por Harriet McDougal, viúva e editora de Robert Jordan, para continuar a série a partir dos manuscritos deixados pelo marido – o 12º volume seria o último mas Sanderson, depois de uma leitura atenta, decidiu dividi-lo em três partes, fazendo deste um épico em 14 volumes – a que se junta ainda uma prequela lançada em 2004.
Em Portugal, apenas quatro volumes viram a luz da edição pela Bertrand, editora que parece agora querer fazer justiça a esta saga assinada por Robert Jordan, que oferece tudo aquilo que um nerd da literatura fantástica procura: volumes a tocar as mil páginas, um mundo imaginário que vai ao detalhe e uma galeria de personagens complexas e muito bem trabalhadas.
Resumidamente, a história é mais ou menos esta: uma divindade conhecida apenas como o Criador foi a responsável pela criação do universo e da Roda do Tempo, uma roda que não conhece fins ou começos: apenas existe, tecendo os dias na Terra. O seu motor é o Poder Único, uma força obtida da Fonte Verdadeira, composta da energia de metades masculinas e femininas (saidin e saidar, respectivamente, qualquer coisa como o yin e o yang da sexualidade). Os humanos que conseguem manipular essa força são chamados de canalizadores, e a principal organização mencionada nos livros capaz disso são as Aes Sedai, composta exclusivamente por mulheres na era actual da história. No momento da criação o Criador aprisionou o Tenebroso, mas uma experiência mal-sucedida das Aes Sedai libertou acidentalmente a sua energia maligna no mundo.
“O Olho do Mundo”, o primeiro volume de A Roda do Tempo, transportava o leitor para Dois Rios, um lugar pacato onde tudo o que tem a ver com a guerra ou com o fantástico apenas chega através de lendas e histórias. Uma dessas lendas é a de que o mundo acabaria quando o verdadeiro dragão renascesse. E, se durante vinte anos ninguém declarou tal poder, nos últimos cinco anos foram pelo menos três a chegar-se à frente, sem que contudo tivessem revelado qualquer aptidão para além de uma admissão no Júlio de Matos lá do sítio. É precisamente em Dois Rios vive Rand al’Thor, um jovem que sonha com uma aventura que lhe transforme a vida, e que se tornará na personagem maior desta aventura.
Chegados a “O Dragão Renascido” (Bertrand Editora, 2020 – reedição), o terceiro volume da série, acredita-se que o Dragão renasceu mesmo, ainda que Rand pareça não estar mentalmente preparado para assumir tamanha responsabilidade sob o lema de que “a Terra é Una com o Dragão e o Dragão é Uno com a Terra”. Nesta guerra entre o Bem e o Mal, a Sombra alastra através das eras e, evocando todos os poderes mágicos do Mal, o Tenebroso procura escapar da prisão onde se encontra – dito desta forma, parece haver um grande paralelismo entre o Tenebroso e o Voldemort de J.K. Rowling.
Para derrotar o Tenebroso, Rand terá de encontrar Callandor, a antiga Espada do Dragão, guardada pelos Sem-Alma. Porém, o grande foco deste livro está nas outras personagens da série, que com Rand constituem uma Irmandade ao nível da que Tolkien criou em O Senhor dos Anéis, onde se incluem personagens incríveis como Perrin, Elaine, Nynaeve ou Moraine. Ao mesmo tempo que permite descer mais uns andares na loucura que vimos já tomar conta de Rand, “O Dragão Renascido” é o livro onde as coisas começam verdadeiramente a ficar épicas. Venham mais 11 volumes.
“E estava escrito que nenhuma outra mão que não a sua deveria empunhar a Espada guardada na Pedra, mas ele empunhou-a, ficando como fogo na sua mão, e a sua glória incendiou o mundo. Foi assim que começou. É assim que cantamos o seu Renascimento. É assim que cantamos o princípio.”
De Do`in Toldara te, Canções da Última Era
Quarto Nove: A Lenda do Dragão.
Escrita por Boanne, Senhora do Cântico em Taralan, a Quarta Era
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