“Um companheiro de viagem, um amigo de infância.”
Quem o diz é Matthieu Bonhomme, autor de “O Homem que Matou Lucky Luke” (A Seita, 2020). Um álbum-homenagem ao cowboy de Morris, publicado por ocasião do 70º aniversário do nascimento de Lucky Luke – no papel terá ainda cerca de trinta -, que foi o grande vencedor do prémio do público no festival de Angoulême.
Lucky Luke, alguém que até com um palito é capaz de fazer magia, ensinou-nos a subtil e fundamental diferença entre estar do lado da lei e do lado da justiça, uma diferença que está bem presente neste livro de Bonhomme, onde a grande dificuldade de Luke parece ser conseguir fumar um cigarro – foi esta a única limitação que a editora impôs a Bonhomme, que brinca com a situação de forma primorosa ao longo de todo o álbum.
Estamos em Froggy Town, uma cidade dominada por uma incompetente irmandade de xerifes, mais conhecida por clã Boone. Após o assalto a uma diligência, que deixa a cidade com um orçamento de gestão não muito animador, as suspeitas vão directamente para um índio, que o clã se prontifica a executar. Acreditando que há algo mais nesta história, Luke irá investigar o caso a fundo, tentando evitar uma clássica guerra entre cowboys e índios que parece inevitável.
Lucky Luke é o mais velho cowboy da BD ainda em actividade. Estreou-se a 7 de Dezembro de 1946 na almanaque da Revista Spirou, com a história Arizona 1880. Criado por Morris (Maurice de Bévère no BI), contou com René Goscinny, um dos criadores de Astérix, como argumentista durante vinte anos. Com a morte de Goscinny, em 1997, e de Morria em 2001, as rédeas foram entregues a Achdè e a escritores como Laurent Guerra, Daniel Pennac e Tonino Benacquista. Foi a editora Lucky Comics que, seguindo o exemplo da Dupuis com a série “Spirous de Autor” – alguém que publique isto em Portugal, por favor! -, deu carta-branca para se criar um Lucky Luke à imagem de cada um – e que teve já publicado, além deste volume, os títulos “Jolly Jumper Não Responde” e “Lucky Luke Muda de Sela”.
Este foi um regresso de Matthieu Bonhome ao western, depois de ter desenhado, ao lado de Lewis Trondheim, “Texas Cowboys”. Um regresso fulgurante e com uma costela cinéfila, tendo Bonhomme sido o responsável por um argumento com muito humor, o espírito de um thriller, o desenho com um traço vigoroso e cores vivas que nos mostram o Oeste com outros olhos. Fabuloso.
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