Wednesday, “o pai supremo”, já era. Bem-vindos a “O Momento da Tempestade” (Saída de Emergência, 2020), o terceiro e último capítulo de Deuses Americanos, o romance de Neil Gaiman que, depois de ter permanecido durante largos anos confinado às páginas do romance, foi transformado numa série televisiva – já com duas temporadas – e, também, numa bem desenhada novela gráfica, publicada em Portugal com o selo da Saída de Emergência em três volumes.
O confronto entre novos e velhos deuses parece inevitável mas, num momento de grande tensão, ainda há tempo para tentar um momento de diplomacia, marcado para o centro exacto dos Estados Unidos continentais, onde o corpo de Wednesday será devolvido aos velhos deuses. O lugar escolhido é uma quinta de criação de porcos, um sítio que mais parece um campo minado, onde todos parecem caminhar em pantufas para não violarem as novas e frágeis tréguas.
Shadow dirige-se ao centro numa carrinha emprestada por um tipo chamado Elvis, uma carrinha que, a ser parada pela polícia, dificilmente escaparia a uma revista cuidadosa em busca de substâncias ilícitas. Num momento inesperado, decide assumir a missão impossível de velar Wednesday, onde terá de permanecer nove dias sem comer ou beber, atado a uma árvore branca celestial. Um gesto que acaba por se revelar uma última travessia, da qual resulta um último e planante desejo.
Reunindo os 9 comic books de “American Gods: The Moment of the Storm”, originalmente publicados pela norte-americana Dark Horse entre 17 de abril de 2019 e 22 de janeiro de 2020, “O Momento da Tempestade” fecha de forma exemplar a adaptação deste romance de Gaiman, lembrando que nem o nada poderá durar para sempre e que a religião – e talvez mesmo a vida – não é mais do que uma metáfora: “Nada disto pode estar efectivamente a acontecer. Se te sentires mais confortável, podes encarar isto como uma metáfora. As religiões são, por definição, metáforas. Afinal, Deus é um sonho, uma esperança, uma mulher, um ironista, um pai, uma cidade, uma casa com muitas divisões, um relojoeiro que deixou o seu cronómetro no deserto. Alguém que te ama… Mesmo, talvez, contra a razão. Um ser celestial cujo único interesse é assegurar que a tua equipa de futebol, empresa, exército ou casamento triunfa e prospera sobre toda a oposição. As religiões são sítios de onde se pode olhar e agir, miradouros de onde se verá o mundo”.
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