Continuamos em modo mãos largas, agora com prendas literárias escritas em português: há romances, poesia, uma espécie de biografia, ensaios de várias dimensões e humor feito com muitos desenhos.
“Aaron Klein” | Paulo José Miranda
Editora: Abysmo
A certa altura, lemos que “cada personagem é um narrador de si e dos outros, e cada narrador é uma personagem de alguém”. E talvez resida, aqui, uma das grandes mensagens deste livro atravessado quase sempre pela infelicidade. A de que as vidas humanas, até ao suspiro final, podem sempre mudar, impedindo que o mundo se parta ou se torne num lugar pior do que é. (ler crítica)
“Coisas de Loucos” | Catarina Gomes
Editora: Tinta da China
Através destas oito vidas, imaginadas e investigadas com lupa e cachimbo por Catarina Gomes, traça-se um retrato da saúde mental – e sobretudo da falta dela –, dos preconceitos enraizados e de costumes sociais implantados ao longo de dois séculos em Portugal, bem como deste lugar onde “poucos meios havia a oferecer aos doentes agitados. Os psicofármacos modernos só chegariam quase duas décadas depois da entrada de Jaime no manicómio, já na década de 1960. A instituição reconhece a sua impotência terapêutica. A própria mudança de nome, em 1945 – de Manicómio Bombarda passa a chamar-se Asilo Psiquiátrico (até 1948) – é sintomática. Em vez de tentar curar, admite-se que a sobrelotação e as más condições transformam a instituição em armazém de doentes incuráveis, em mero asilo”. Um livro de não ficção que se lê como um romance de época, e que resulta de um trabalho de investigação de se lhe tirar o chapéu. Se andam à procura de um bom livro, levem este pedaço de loucura para casa. (ler crítica)
“Rimbaud, O Viajante e o Seu Inferno.” | Ana Cristina Silva
Editora: Exclamação
Uma biografia romanceada? Um romance biográfico? Um tributo literário? Chamem-lhe o que quiserem, a verdade é que “Rimbaud, O Viajante e o Seu Inferno.” , assinado por Ana Cristina Silva, é um extraordinário livro sobre um poeta maior que, num certo dia, decidiu atirar com a escrita às urtigas. Um tipo vaidoso, irascível, inseguro, indecifrável, que a todos arrastou consigo para o vórtice da destruição, até o cancro o ter arrastado para o Inferno quando tinha apenas 37 anos. (ler crítica)
“Flecha” | Matilde Campilho
Editora: Tinta da China
Os parágrafos estão entre o sumo de um telegrama e os enigmas dissimulados em mensagens de guerra e paz, convidando o leitor a entrar num mundo que pertence às histórias, ao poder da oralidade, a uma vida em comunidade onde o que resta, no final, são as memórias. Aquela flecha que une o princípio a um fim sempre em movimento, onde, “entre o sono e a vida, um dia de cada vez, caminhando sobre a caruma, vamos escutando e contando as histórias. Uns aos outros, a nós mesmos, e àqueles que vêm depois de nós”. Matilde “Tell” Campilho acertou outra vez no alvo. (ler crítica)
“Margarida Espantada” | Rodrigo Guedes de Carvalho
Editora: Dom Quixote
Romance-catarse sobre a família e todas as suas armadilhas, numa dinâmica relacional onde se engolem silêncios, se calam segredos e se espera pela inevitável implosão. (crítica em breve)
E ainda:
“O Caso Mental Português” | Fernando Pessoa (Assírio & Alvim)
“Um Castelo em Ipanema” | Martha Batalha (Porto Editora)
“Mais que Mil Imagens” | António Mega Ferreira (Sextante)
“Tirem-me deste Livro” | Diogo Ourique (Letras Lavadas)
“Uma Ida ao Motel” | Bruno Vieira Amaral (Quetzal)
“A Ocupação” | Julián Fuks (Companhia das Letras)
“A Lição do Sonâmbulo” | Frederico Pedreira (Companhia das Ilhas)
“Apneia” | Tânia Ganho (Casa das Letras)
“O Livro do Joaquim” | Daniel Faria (Assírio & Alvim)
“Epítome de Pecados e Tentações” | Mário de Carvalho (Porto Editora)
“No Lazareto de Lisboa” | Rafel Bordalo Pinheiro (PIM! edições)
“Os Grande Animais” | Inês Fonseca Santos (Abysmo)
“Caronte à Espera” | (Elsinore)
“Tropel” | Manuel Jorge Marmelo (Porto Editora)
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