O confinamento, quando nasce, é para todos. Até mesmo para Greg Heffley, carinhosamente conhecido por Banana, que parece ter atingido o limite da coabitação: “Gosto muito da minha família, mas não preciso de estar com eles vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Só que é EXACTAMENTE assim que tem sido ultimamente”. Para piorar as coisas, com a casa em obras os Heffleys estão a viver na cave da avó, que lhes pediu para nunca subirem quando lá está com as amigas, nem mesmo para usar a casa de banho ou a cozinha.
É este o cenário vivido pelos Heffleys em “Bater no Fundo” (Booksmile, 2020), o 15º volume da divertida série O Diário de um Banana, onde há muito teletrabalho, puzzles, jogos de tabuleiro e horários feitos em torno do pequeno Manny, agora com 3 anos, cuja história preferida “é sobre um senhor que descobre que vai chover durante muito tempo, e então constrói um barco gigante para enfrentar a tempestade e põe lá dentro um monte de animais”. Uma história de proporções bíblicas onde Noé se chega à frente como um dos primeiros confinados da história, história a que Jeff Kinney trata de apontar algumas incongruências – como não haver baleias e peixes lá dentro mas andarem por lá diversos pássaros.
O momento aparentemente zen surge com a possibilidade de umas férias em família, a bordo da caravana do tio Gary que, estacionada há dois anos no pátio da bisavó. “Agradava-me a ideia de usar a casa de banho e poder olhar lá para fora, enquanto percorríamos a auto-estrada”, diz-nos um Greg que, por momentos, parece querer adoptar o caravanismo como estilo de vida, mas quando percebe que há um depósito que tem de ser despejado começa a achar que talvez tivesse sido melhor ficar em casa.
Jeff Kinney traz-nos a quase sempre complicada missão das férias em família – ou a obsessão com o fazer algo -, num livro com ursos e melgas, um Éden das caravanas enganoso, muita falta de civismo, adolescentes no ponto ou uma fisga de melancias, num livro que abraça os tempos modernos e revela o pânico dos mantimentos e os muitos açambarcamentos. Um livro que se lê como um colapso aos bonecos, impressos nas já familiares linhas. Continua em grande, este Banana.
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Ótimo