“Romance histórico, filosófico, mitológico e um clássico da literatura europeia contemporânea”. Assim é descrito “Outrora e Outros Tempos” (Cavalo de Ferro, 2020), livro que tão bem reflecte a qualidade desta exímia escritora que, em 2019, foi galardoada com o Nobel da Literatura.
É em Outrora que se centra a história deste luminoso livro de Olga Tokarczuk, que abranda o relógio e precisa de toda a atenção e calma para ser devidamente apreciado. Mas se Outrora é na Polónia, no coração ou no centro do universo, não interessa. Esta é uma aldeia para onde os leitores são convidados a partir para reflectirem sobre o tempo, seja ele o tempo do Homem ou o tempo do homem. A autora, que desenrodilha um novelo de lã – ou que porventura o enrola -, vai desvendando os grandes marcos históricos do século XX, enquanto acompanha a vida de três gerações.
Os rios que são seres orgânicos, os animais que falam e a relva que sangra. A puérpera que sofre, a criança que cresce, o pároco que grita. A forte carga mitológica que habita estas páginas guia o leitor numa viagem onde a escritora lhe sussurra ao ouvido e lhe vai contando sobre a magia das coisas, da natureza e do mundo. Sobre o milagre da vida, da reprodução e da descendência. Sobre a esperança que pode ser encontrada depois da tempestade, sob forma dos conflitos que enumera e pelos quais a Polónia passou ao longo do século passado.
Tudo está no seu lugar. Tudo pertence ao seu tempo. Tudo tem o seu tempo. E é isso que Olga Tokarczuk constrói neste livro: tudo está no sítio certo.
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[…] Os rios que são seres orgânicos, os animais que falam e a relva que sangra. A puérpera que sofre, a criança que cresce, o pároco que grita. Continue a ler no Deus me Livro. […]