A primeira coisa em que o leitor irá pensar assim que folhear as primeiras páginas de “Grande Amigos” (Orfeu Negro, 2020) será, muito provavelmente, que não devia ter deitado fora todas aquelas muitas caixas de cartão onde vinham desde estantes por montar, livros à solta envoltos em plástico de peito feito ou frutas e vegetais para enfiar no frigorífico.
Assinado pela dupla Linda Sarah (texto) e Benji Davies (ilustrações), “Grande Amigos” conta a história de Zé e Nico, amigos inseparáveis que todo o santo dia sobem ao Monte do Cimo, juntamente com as suas caixas de cartão para se transformarem em reis, soldados ou astronautas. Uma cumplicidade que dura até ao dia em que um rapaz chamado Gui ganha coragem e se junta à dupla, dupla que olha para esta intrusão com sentimentos bem diferentes. Se Nico embarca na aventura ao ritmo do lema quantos mais melhor, o Zé sente-se abandonado e trocado pelo novo membro do grupo, decidindo ficar sozinho, “abstraído nos seus desenhos”, recusando as muitas chamadas que vão sendo feitas do lado de fora da sua janela.
Linda Sarah oferece-nos uma história sobre aceitação e medo, descoberta e renovação, amizade e a aversão à novidade, num livro sobre a aventura do crescimento que vai ao encontro do lema “todos por um, um por todos”. As ilustrações de Beni Davies continuam uma delícia, como quando desenha o Grande Escala-Forte, uma incrível e monstruosa criatura feita de cartão que, só por si, merecia uma figura de acção.
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