É mais um volume da Colecção de Cantos Redondos, saído directamente do Planeta Tangerina, que oferece aos mais pequenos livros interactivos e digitais feitos de papel. Com história de Isabel Minhós Martins e ilustrações de Madalena Matoso, “As Mãos e os Livros” (Planeta Tangerina, 2020) apresenta-nos a uma mão com ar de tenaz, que serve para lançar uma interrogação que actua como pontapé – ou, neste caso, pontamão – de saída: “Onde irá ela?”.
O destino parece ser uma prateleira, de onde retira um livro que provoca “um pequeno buraco negro no universo”. Ficamos a conhecer o mundo das lombadas, os cheiros inexplicáveis que o papel oferece, as “coisas fáceis e difíceis” que acontecem entre o leitor e as páginas impressas – e aquele momento em que são apenas dois os dedos que tocam as páginas, como se entre eles existisse um frágil e delicado véu. Olha-se o livro sob ângulos quase infinitos: “uma coroa”, “um cofre”, “um bebé recém-nascido”, numa dança com o leitor a fazer lembrar aqueles slows melosos que muitos dançavam nos idos anos oitenta.
O mistério da leitura faz-se também com polegares escondidos, mãos aquietadas, um indicador prestável mas também a quatro mãos, indicando a leitura como uma tarefa de conjunto que pede a leitura em voz alta ou a partilha de um silêncio cúmplice. A certa altura a dança parece ter chegado ao fim, mas trata-se apenas de recuperar o fôlego antes de mais uma ida à prateleira, num ciclo que se deseja interminável.
Uma bonita homenagem ao acto de leitura, aos gestos que o alimentam e, claro, aos livros, em mais uma explosão sonora e visual que nos chega deste planeta que cheira a tangerina.
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