A Ordem Militar dos Pobres Cavaleiros de Jesus Cristo e do Templo de Salomão, mais conhecida como Ordem do Templo, encontra-se envolta numa aura de mistério, sendo atribuídos conhecimentos místicos secretos aos seus membros. Perante o que conseguimos saber hoje acerca deles e das suas ligações a Portugal, será possível deduzir que o nosso país está destinado a tornar-se a sede de um império universal, de natureza espiritual?
Sérgio Franclim, autor de “Portugal Templário: História e Mito” (Influência, 2020), acredita com fervor que sim, e descreve neste livro a forma como a Ordem do Templo marcou a história nacional e o que isso pode significar para o futuro.
Um argumento interessante é o de que a história académica “apenas poderá ser totalmente compreendida se se ligar à história metafísica, já que os grandes portugueses de outrora construíram o país segundo sonhos místicos e religiosos”. É sob esse ponto que vista que são analisadas as acções de alguns reis portugueses, bem como o trabalho de outras personalidades históricas, incluindo o profeta Bandarra, o Padre António Vieira, o filósofo Sampaio Bruno e os escritores Guerra Junqueiro e Fernando Pessoa.
O percurso do primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, ilustra como os templários contribuíram para a fundação e expansão do reino. Mais tarde, D. Dinis permitiu à Ordem reconstituir-se em tempos de perseguição. De facto, em 1307, os seus membros em França foram presos sob diversas acusações, motivadas sobretudo pelo desejo do rei de se apoderar da sua riqueza. A pressão real francesa sobre o papa levou à extinção da Ordem em 1312. Todavia, em Portugal, após uma investigação que ilibou os templários, D. Dinis conseguiu que o papa criasse uma ordem nova e estritamente portuguesa para os assimilar, a qual foi denominada Ordem de Cristo e integrou cavaleiros estrangeiros refugiados. Desta forma, ela continuou a ser uma força motriz da história, tendo desempenhado um papel crucial nos descobrimentos e propagado a sua simbologia numa série de monumentos, como o Mosteiro dos Jerónimos, mandado erguer por D. Manuel I, que foi Grão-Mestre da Ordem de Cristo.
O autor divide a História de Portugal em cinco ciclos, sendo o quarto aquele em que vivemos, enquanto o quinto ainda é apenas uma previsão. Cada um deles inclui uma renovação espiritual do país após um tempo de escuridão, em que Portugal perde, ou está prestes a perder, a sua independência. Um exemplo é o desaparecimento de D. Sebastião, que transformou este rei num símbolo e desencadeou um movimento, o Sebastianismo, associado à tradição templária.
Acredite-se ou não nas interpretações e previsões aqui expostas, é inegável que estamos perante uma perspectiva diferente da História de Portugal, que estimula o fascínio pelas forças que nos moldaram no passado e talvez continuem a fazê-lo.
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