Quando se lançou na escrita sobre o crime, Frode Sander Øien decidiu manter a sua identidade secreta. O propósito foi sentir-se livre, sem impor limites a si próprio nesta nova área da escrita. Só depois de estar no bom caminho, dentro e fora da Noruega, é que revelou ser Samuel Bjork, o autor de “Viajo Sozinha” (D. Quixote, 2020), livro publicado em 2013 e que esteve nomeado para o Norwegian Booksellers’ Prize.
Øien escreveu a sua primeira peça de teatro aos 21 anos e, para além de dramaturgo, tem dado cartas em várias outras artes: é compositor, cantor, expôs arte contemporânea em várias galerias e traduziu Shakespeare.
Actualmente, Mia e Munch, o par de detectives a que deu origem, toma conta da maior parte do seu tempo, e o seu entusiasmo por estas personagens vai fazer correr ainda muita tinta: segundo o autor, temos assunto para pelo menos mais seis volumes.
Num ambiente bem norueguês, com as suas pequenas ilhas longe de tudo, cabanas e florestas e um clima a três cores – branco, cinzento e verde -, são aqui tocados vários temas sociais: a toxicodependência e as overdoses, a negligência e os maus-tratos infantis, os dramas dos actuais relacionamentos familiares – tudo cabe neste sprint thrilliano bem medalhado.
Os detectives Munch (um detective veterano com um amor particular à matemática) e Mia (dotada de capacidades mnésicas e de dedução extraordinárias) são os principais condutores da investigação da morte de uma menina de seis anos. A par da tentativa de chegarem ao responsável, há também a descoberta progressiva do lado mais negro das suas próprias vidas, indo ao encontro da actual literatura policial e criminal: uma quase competição entre o interesse pelos investigadores/detectives, com a revelação progressiva dos seus dramas e segredos, e o desenrolar da investigação, numa sucessão de novos crimes e de novas pistas. “Viajo Sozinha” ilustra bem esta corrida em faixa dupla, apresentando ainda uma faixa escondida, relativa ao papel das “igrejas” alternativas nos dias de hoje.
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