“Fábulas sobre animais inteligentes e humanos tolos”. É desta forma que nos são apresentadas as “Fábulas de Esopo” (Fábula, 2020), aqui adaptadas por Elli Woolard e ilustradas por Marta Altés, numa edição da editora Fábula que chega embrulhada numa lindíssima capa gravada a preceito.
Aqueles que terão sido os primeiros contos escritos com um intuito moral e instrutivo são atribuídos a Esopo, uma figura misteriosa do qual se sabe pouco e se inventa muito. Diz-se, tal como num conto, que terá sido um escravo que viveu na Grécia Antiga entre 620 e 564 a.C., e que como Xerazade terá conquistado a sua liberdade contando estas fábulas. Outros dividem-se entre o nome real e o pseudónimo, ou entre as fábulas serem obra de uma pessoa ou de um grupo de escritores. Seja como for, estas fábulas sobreviveram durante séculos e tornaram-se verdadeiros clássicos, histórias curtas que ensinam uma moral, e que foram originalmente passadas de boca em boca, normalmente protagonizadas por animais que se comportam como seres humanos. Uma forma de rebelião sem castigo, que servia para de forma dissimulada criticar os poderosos.
São oito os contos incluídos nesta colectânea, muitos deles passados de geração em geração como ensinamentos ou avisos à navegação: Os viajantes e o urso, um teste à amizade e ao lema “sou eu por ti e tu por mim, eu contigo e tu comigo, juntos enfrentamos qualquer perigo”; A lebre e a tartaruga, o clássico dos clássicos, que mostra que nem sempre ganham os mais ágeis, super-velozes ou armados aos cucos; O rapaz e o lobo, onde partidas em excesso conduzem à perda dos sapatos – e de mais qualquer coisinha; O burro com pele de leão, onde as aparências chegam a iludir mas nem tanto; O cão e o seu reflexo, que reinventa um ensinamento e o apresenta agora como mais vale um osso na boca do que dois a afundar; O babuíno e a raposa, que nos coloca perante um dilema actual olhando o mapa político: “se fosses um animal, a quem darias tu o reinado: alguém enfadonho, mas sábio, ou a um pateta engraçado?”; O pavão e o grou, onde a beleza e a patetice insistem em anda de mãos dadas; e, a fechar, O rato do campo e da cidade, que traz outro ensinamento importante. O de sermos fiéis aquilo em que acreditamos, mesmo que isso tenha o ar de “uma casinha de campo, tosca e mais para o velhita”. Oito clássicos ainda com muito para dizer.
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