Traquina. Desobediente. Pouco estudioso. Muitas vezes mentiroso. Não é difícil encontrar maus adjectivos ou frases pouco elogiosas para descrever Pinóquio, um menino que, como muitas crianças – mas não como elas -, gosta de estudar o menos possível, fazer o que lhe apetece e não olhar – nem sequer de perfil – para as consequências.
Boneco feito de um pedaço de madeira encantada, Pinóquio é uma lenda do reino infantil, rosto de uma história carregada de moral e conselhos parentais que visa colocar os petizes no bom caminho, afastando-os das muitas tentações e armadilhas que a vida lhes irá colocar ao longo do percurso.
“As Aventuras de Pinóquio” (Kalandraka, 2015) é a obra mais famosa e mais amada de Carlo Collodi, pseudónimo escolhido para Carlo Lorenzini, um prestigiado jornalista italiano que viveu entre 1826 e 1890. Depois de muitas versões, incluindo a adaptação cinematográfica da Disney, foi publicada em 2005 pela Creative Editions uma outra ao estilo de um director`s cut, que juntava à história de Collodi as assombrosas ilustrações de Roberto Innocenti, um dos mais afamados ilustradores internacionais no que toca à literatura infantil. Edição essa que chega agora a Portugal pelas mãos da Kalandraka, com capa dura e em grande formato, que vem devolver o imaginário de Pinóquio às mais antigas gerações e o apresenta, com pompa e circunstância, às mais novas.
A história gira à volta do binómio causa-efeito, onde a um crime se segue, necessariamente, um castigo: Pinóquio mente, cresce-lhe o nariz; Pinóquio porta-se mal, queima os pés num braseiro ao adormecer; Pinóquio desobedece, é enforcado numa árvore. O tema central do livro é o egoísmo, que Pinóquio terá de eliminar – ou, pelo menos, reduzir até formar doses não tóxicas – se quiser transformar-se num menino de verdade, como todos os outros meninos. Porém, mesmo contando com a ajuda de Gepeto, do Grilo-Falante e da Fada de cabelo azul-turquesa, irá ainda a tempo de reparar o seu destino?
Esta edição ilustrada é um verdadeiro achado. Innocenti traduz, de forma singular, a agitação das ruas, a beleza das paisagens, as motivações das personagens, o real e o imaginário, sempre com um toque de negrume que só fica bem a uma história que, antes de poder pensar num final feliz, tem de subir montanhas de infelicidade. Certamente uma das mais conseguidas edições infantis que o ano de 2015 vai conhecer em Portugal.
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