Se houvesse um livro de recordes referente a autores nacionais que se aventuram sem freio no universo da literatura infantil, um dos três nomes que estaria à cabeça pelo número de títulos editados seria certamente o de António Mota. Nascido em Vilarelho em 1957, publicou o seu primeiro livro – “A Aldeia das Flores” – em 1979 e, desde então, conta já com mais de 80 obras publicadas apontadas aos mais pequenos.
Diz-se que as ideias para livros se encontram em toda a parte, da família aos amigos, dos jornais à televisão, dos episódios do dia-a-dia aos grandes acontecimentos. No caso de “Dicionário das Palavras Sonhadoras” (Asa, 2015), a inspiração surgiu de uma rotineira viagem de comboio em que Mota, para evitar ouvir em loop o inevitável mantra infantil “ainda falta muito?”, meteu conversa com os dois filhos pequenos de uma mãe que com ele partilhava a carruagem.
Kiara passou o tempo todo a fazer desenhos – Mota diz ter contado mais de 30 – mas, quando ouviu Mota contar ao irmão que adorava ler e escrever histórias, avançou com um pedido que para Mota teve o sabor de um desafio: «Eu gostava que fizesse um livro só para mim. Um livro que tivesse poucas palavras. Mas que essas palavras me fizessem sonhar. Eu gostava muito de ter um livro em que cada palavra contasse muitas histórias.» E ainda disse a António Mota o título que deveria escolher: “Dicionário das Palavras Sonhadoras”. Conseguir melhor copywriter ou mente criativa seria certamente impossível.
Durante meses António Mota, procurou, escolheu e guardou palavras, até inventar uma história de uma linha – com raras excepções – para cada uma delas, que se lê como uma entrada de um dicionário de sonhos. De A a Z, começamos com uma simples palavra para, de seguida, vislumbrar todo um imaginário que, com a ajuda das ilustrações de Sebastião Peixoto, veste cada palavra com as cores da fantasia e do imaginário: «Estendal é uma palavra que toma banhos de sol e chora pingas de água; Imaginar é uma palavra que nunca podemos perder; Vento é uma palavra que ninguém consegue apanhar.» Para sonhar de A a Z.
2 Commentários
Qué título! As crianças de hoje em dia são na verdade intelectuais. Ainda tenho de encontrar mais autores em língua portuguesa, ele parece uma boa opção.
Uma saudação.
Um abraço Javier!