“Há meninos de diversas formas e também de diferentes formas de ser”, sejam “meninos-árvore que preferem ficar no sítio onde nasceram”, “meninos-boca-aberta que se espantam com facilidade” ou os “meninos-lupa, aqueles que ampliam tudo, principalmente o que não lhes agrada”.
“Napoleão Benjamim Pirueta” (Oficina do Livro, 2019) pertence ao grupo dos últimos – da frase acima transcrita -, mas parece ter predicados para dar e vender. Nascido com quatro quilos, duzentos gramas e “cara de poucos amigos”, olhou desde muito cedo para o mundo como um lugar estranho. O nome, esse, foi-lhe dado a partir de um general francês pouco dado às alturas mas dado a ferver em água fria, e cresceu a ver tudo em toda a gente, sobretudo a apontar os seus defeitos.
Mas talvez a personagem mais fascinante desta história assinada por Isabel Zambujal seja Júlia Pirueta, a irmã de Napoleão, que ignorava as muitas críticas mas, armada de um espírito de biógrafa, escrevia todas as injúrias. No último ano, por exemplo, “anotara 1557 censuras referentes à família, 2820 reprovações sobre tudo o que o rodeava, mas apenas três chamadas de atenção acerca de si próprio”.
As ilustrações são de Rachel Caiano, que desenha com mestria esta história de crescimento, da dificuldade na convivência de dois irmãos durante a sua adolescência, de um olhar para dentro que só acontece quando se é colocado diante de um espelho. E que é, também, um apelo à preservação do planeta, sugerindo que cada leitor adopte para si o lema de vida do Homem-Aranha: com grande poder vem grande responsabilidade.
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