“Malmö Kebab Party” é quarto volume da colecção LowCCCost, que tem por mote o lema para quem gosta de viajar sem apanhar transportes e gastar dinheiro. O próprio objecto – o livro -,segue esta filosofia de baixo custo, sendo sempre colorido com uma única cor. No entanto, para aqueles mais familiarizados com a colecção, este é um volume que poderá passar despercebido, uma vez que se trata de uma edição especial publicada em parceria pela Associação Chili com Carne e a Ruru Comix, contando com uma estética distinta e um número de páginas significativamente menor do que aquele a que estamos habituados.
Depois de uma viagem punk/literária pela Europa, uma estadia de seis meses na Guiné-Bissau e a reunião de várias experiências de emigrantes portugueses (este último vencedor do prémio de melhor álbum no festival da Amadora), chegou a vez de “Malmö Kebab Party”, um pequeno relato contado a cinco vozes sobre uma viagem até ao festival AltCom, em Malmö, onde um grupo de jovens autores de BD foi apresentar o projecto QCDA (uma antologia também criada pela Associação Chili com Carne).
A aventura tem início pela mão de Amanda Baeza que, numa curtíssima introdução ao início da viagem, dá vida a um inesperado protagonista: um ananás que irá acompanhar os autores nas suas várias peripécias. Segue-se Hetamoé, que conta com a narrativa mais linear e completa sobre os eventos que decorreram ao longo do festival. Esta autora, mais conhecida pelo seu traço evocativo de influências japonesas, afasta-se aqui desse registo, explorando uma linha mais realista. Sofia Neto continua a desenvolver os acontecimentos do festival, só que agora entramos num registo surrealista e sem palavras, criando, ao mesmo tempo, o momento mais psicadélico desta aventura e um dos melhores, a par com o de Afonso Ferreira – o quarto cronista. Através dos seus bonecos simples e originais, Afonso Ferreira traz-nos aquilo que faz de melhor: uma história carregada de humor, por vezes crítico, por vezes – ou simplesmente – pateta (do melhor tipo, claro). A fechar temos Rudolfo, também responsável pela fantástica capa e pelo design. Rudolfo, à semelhança de Ferreira, segue uma linha de auto-paródia, mas usando um humor mais agressivo e concentrado-se num determinado evento, ao invés do festival.
Cada história espelha, à sua maneira, um pouco do que decorreu nesta aventura. Sem grandes alongamentos, não ficamos com uma impressão forte do que realmente aconteceu em Malmö; porém, ficamos a conhecer um bocado melhor a química desta equipa e a forma como gostam de se expressar através da Banda-Desenhada. É bom descobrir novos autores de BD que mostram esta energia e vontade em partilhar o seu trabalho. Lamenta-se é o desaparecimento, a dada altura, desse mítico ananás que se encontra na capa, claramente o herói de toda esta história.
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