Perturbador é a primeira palavra que vem à cabeça quando se fala de “A Rapariga no Comboio” (Topseller, 2015), a estreia na ficção de Paula Hawkins. Todo o burburinho que se tem ouvido acerca deste thriller psicológico tem razão de ser, uma vez que é o tipo de livro que facilmente prende a atenção do leitor e o mantém acordado noite dentro.
Acompanhamos Rachel na sua viagem diária no comboio das 8h04 em direção a Londres. Observadora, vislumbra as pessoas como se estivesse a ver um filme, acabando por inventar nomes e histórias de vida para estes actores da sua película. Um dia apercebe-se de uma situação que mudará a sua perceção relativamente a essas personagens e, a partir daqui, entramos numa espiral de acontecimentos e revelações, que são entrelaçados com grande mestria pela autora.
O ponto mais forte da trama de “A Rapariga no Comboio” é exactamente essa caracterização, não só das três narradoras que dão voz ao enredo como, também, de outras três personagens masculinas, directamente relacionadas com o acontecimento trágico à volta do qual este livro gira mas que não têm voz própria.
A ideia com que se fica é a de que ninguém é o que parece. A própria Rachel deixará, por vezes, o leitor tão confuso e à beira de um ataque de nervos: é aquela personagem de quem se demora a gostar, alguém sem controlo sobre si própria a quem nos apetece dar um abanão. Mas, como já foi aqui dito, parecer não é ser, e só nas últimas páginas ficará esclarecido todo o mistério, sendo explicadas, uma a uma, as pequenas dúvidas que Paula Hawkins foi semeando ao longo de mais de 300 páginas. Adiantar mais do que isto será estragar o prazer da leitura, da descoberta, das hipóteses, do tentar adivinhar o que se passou.
A quem vai começar a ler o livro daqui a uns dias – quando estiver disponível nas livrarias -, fica um conselho: abram a mente a todas as possibilidades. Se é verdade que, a partir do último terço, já começa a ser possível acertar no mau da fita, também é verdade que as motivações e o próprio perfil psicológico podem chocar pela frieza demonstrada, pelas atitudes desprovidas de amor, de humanidade e de respeito pelo outro.
“A Rapariga no Comboio” é um livro que oferece, de facto, razões para ser apelidado de “livro do momento”, podendo, de certo modo, influenciar a perspectiva com que olhamos para a vida dos outros nos pequenos instantes, como quando, por exemplo, viajamos de comboio.
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