“Ganhar Asas e Voar” (Ideias de Ler, 2020) – A força das mulheres para mudarem o mundo – é um livro inspirador, emotivo, escrito num tom biográfico, cujo objectivo é partilhar as suas causas, num trabalho desenvolvido no âmbito da Fundação Bill & Melinda Gates. Há pessoas extraordinárias e, se tivermos a sorte de nos cruzar com elas, conseguiremos voar mais longe – e assim responder a grandes desafios.
Melinda Gates é filantropa, mulher de negócios e defensora dos direitos das mulheres. Para além das funções que desempenha na Fundação, é também fundadora da Pivotal Ventures, uma empresa de investimento e incubação que contribui para o progresso social de mulheres e famílias nos Estados Unidos. Cedo descobriu as discrepâncias entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento, e são algumas destas descobertas que estão na essência de ter abraçado os desafios que partilha neste livro.
Melinda recorda o que ouviu e leu sobre as crianças de países pobres que morriam com problemas de saúde. Ela e o marido, Bill Gates, ficaram horrorizados quando descobriram que “as vacinas desenvolvidas nos Estados Unidos demoravam quinze e vinte anos a chegar às crianças pobres do mundo em vias de desenvolvimento e que os nossos investigadores não se debruçavam sobre as doenças que matavam. Foi a primeira vez que percebemos claramente o que é que acontece quando não há incentivos de mercado para ajudar as crianças pobres: morrem milhões de miúdos”. Rapidamente perceberam que a pobreza e a saúde “andam de mãos dadas”. Não é só o problema da vacinação que atormenta Melinda, existem muitos outros: o casamento infantil, o planeamento familiar, a desigualdade de género, quer no acesso à educação e à saúde quer no mercado de trabalho. Urge melhorar a vida das mulheres, principalmente em zonas mais pobres do planeta.
Será este um livro feminista? É irrelevante a resposta. O importante é saber que há mulheres empenhadas em melhorar o mundo, em melhorar a vida de muitas outras mulheres, o que não significa que se minimize o papel do homem. Aliás, Melinda afirma: ”Nunca fui da opinião que as mulheres são melhores do que os homens, ou que a melhor forma de melhorar o mundo é dar mais força às mulheres do que aos homens.(…) O que preconizo não é a ascensão das mulheres e a queda do homem. É a ascensão de ambos, homens e mulheres, de uma luta pelo domínio para um estado de parceria“. Este é um livro sobre a humanidade, a transformação e a igualdade de oportunidades, sobre criar condições para que o voo seja possível: “Às vezes, para deixarmos as mulheres levantarem voo só temos de parar de puxá-las para baixo“.
No epílogo, podemos ler: “Não existe estigma nem vergonha nem marca de inferioridade por sermos doentes ou velhos, por não sermos de raça “certa” ou por sermos da religião “errada”, por sermos uma rapariga ou uma mulher. Não existem raças, religiões ou géneros errados. Desfizemo-nos das nossas falsas fronteiras. Podemos amar sem limites. Vemo-nos reflectidos nos outros. Vemo-nos com os outros”. Só assim ganharemos asas para voar, só assim seremos livres. No entanto, a grande questão é se todas as mulheres serão capazes de voar. Provavelmente não, mas temos de continuar a agir e a acreditar. Necessitamos de pessoas inspiradoras e transformadoras, que acreditem e ajam. De histórias inspiradoras.
No final encontramos um guia de recursos: organizações que os leitores podem apoiar. Vale a pena pesquisar. Melinda Gates irá doar a totalidade das receitas da venda deste livro para as organizações que constam no guia de recursos.
Melinda nasceu em Dallas, no Texas. É licenciada em Ciências da Computação pela Duke University e tem um MBA em Gestão. Os primeiros anos profissionais foram na Microsoft. Mais tarde saiu para se dedicar à família e ao trabalho humanitário. Vive em Seattle, Washington, com o marido e os três filhos.
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