Existe a coluna vertebral. Existem colunas de jornais. E, além destas, existem também pessoas com coluna vertebral com as quais podemos estar sempre de acordo – o inverso também pode acontecer, ou então uma mistura de ambos os estados. O analista político Daniel Oliveira (DO) está neste restrito lote de grandes cronistas.
Daniel Oliveira é uma das figuras incontornáveis no panorama do comentário político-social português. Esteve na génese de um dos Partidos mais relevantes das duas ultimas décadas de política em Portugal, o Bloco de Esquerda, mas foi devido à sua acutilância no comentário semanal do Expresso que ganhou reconhecimento e espaço na análise do situacionismo.“A Década dos Psicopatas” (Tinta da China, 2015) traz-nos algumas das crónicas de DO publicadas no Expresso entre 2006 e 2015, semanário com o qual continua a colaborar.
Como mais-valia e factor positivo na obra, é curioso verificar que, mesmo sendo uma compilação, o livro esteja criteriosamente disposto por capítulos. Inicia-se com dissertações sobre a crise na era dos liberais, segue-se para uma análise sobre o Estado Social, avança-se para o Portugal político, avalia-se o Estado do Mundo e termina-se a obra com conclusões sobre os Media. Esta separação, além de editorial, é também cronológica.
O livro mostra-nos DO igual a si mesmo, um homem controverso, sendo que algumas destas crónicas lhe valeram processos crime – sobretudo quando se dirigiu a Alberto João Jardim – ou alguma má fama em certos jornais de Luanda.
Nunca negando a defesa do Estado providência como garante do bom funcionamento das entidades que regem o Sistema e aquele que deve ditar as regras do jogo, vemos DO, em vários artigos, a condenar casos que se ficaram por punições superficiais na Justiça.
É preciso ter estômago para ler tão massiva compilação de ideias. DO tira imensos esqueletos do armário e, por inúmeras, vezes põe o dedo na ferida. O autor leva-nos mesmo a pensar que vivemos numa “ditadura perfeita”, em que votamos em indivíduos que não nos representam e que, legitima e democraticamente, reduzem o nosso lote de direitos enquanto cidadãos.
Bem antes da crise eclodir DO já apontava o caminho para o qual o neo-liberalismo nos iria levar, com a complacência de membros de Governos intimamente ligados a Entidades responsáveis pelo colapso do sistema financeiro. DO esquematiza as jogadas e os cenários em que o vencedor é sempre o mesmo: O Capital e os mercados financeiros.
Ironizando a expressão “ajuda externa” ou “resgate financeiro”, conseguimos agora verificar como DO foi um dos pioneiros no alerta que, enquanto cidadãos, não tivemos: a Troika não iria, de todo, auxiliar a economia nacional.
Ao longo dos textos são também feitos constantes apelos a uma Europa realmente unificada, para que os Estados não comecem a cair como peças de dominós, sem descurar o que considera estar errado naquela que considera ser a Nação mais desigual da Europa – Portugal.
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