Melhor romance gráfico de 2018 para a Forbes Magazine, um dos melhores livros de 2018 para a revista Wired e um Eisner no bolso atribuído para Melhor Nova Série em 2019. Distinções recolhidas por Gideon Falls, série que junta o escritor Jeff Lemire (Descender, Velho Logan) ao artista Andrea Sorrentino, e que vai deixar o leitor completamente à nora com um cocktail feito de obsessão, doença mental, fé e portais para outras dimensões – uma espécie de Dark servido às tiras.
Depois de um primeiro volume que serviu para que o leitor ficasse a conhecer os cantos à casa e o aspecto exterior do celeiro negro, “Pecados Mortais” (G. Floy, 2019) acrescenta algumas camadas de mistério e de confusão, tratando de acompanhar Norton Sinclair na sua descida ao poço mais fundo da loucura e do projecto de construir, quase peça a peça, um celeiro de dimensões consideráveis – e que poderia bem ter nascido de um sonho de Stephen King.
Norton, que é agora ajudado pela Dra. Angela Wu – a psicóloga com quem desenvolveu uma relação próxima – após ter abandonado o hospício, começa a ter alguns flashbacks da sua infância, recuperando para a memória os tempos que passou em St. Mark, o colégio de freiras onde começou a ouvir uma voz a chamá-lo – a voz do homem que sorri, que não o larga por nada.
Quanto ao Padre Fred, um sacerdote católico recém-chegado a Gideon Falls, vê a sua fé ser cada vez mais abalada após ter experienciado o inexplicável, conseguindo vislumbrar um passado que parece correr numa realidade paralela à sua – mas que está estranhamente interligada. Também ele irá em busca do segredo do Celeiro Negro.
Clara, a Xerife, tem uma pequena epifania, lembrando-se de que o desaparecimento do irmão Danny, que ocorreu quando eram ambos crianças, poderá estar ligado a Joe Raddy, que era então o condutor do autocarro escolar.
Lemire troca as voltas ao leitor e fá-lo regressar a 1886, o ano em que as mortes em Gideon Falls começaram – 12 em menos de um mês -, sendo o primeiro assassino um tal de…Norton Sinclair. Confusos? Têm boas razões para isso, até porque logo a seguir o Celeiro desapareceu de vista.
O final deste volume é absolutamente indescritível, uma vez que Jeff Lemire – e quem tem acompanhado Descender sabe disso – é mestre em hipnotizar o leitor, fazendo-o atravessar uma corda entre dois arranha-céus, qual funâmbulo, para depois o despertar a meio fazendo-o compreender tarde demais a grande trapalhada em que se meteu.
A arte de “Pecados Originais” é soberba. Não há muitas séries de banda desenhada que consigam surpreender usando este jogo do gato e do rato entre arrumação e caos, numa brincadeira gráfica com tudo o que são formas, cores e texturas. “Este sítio entranha-se. Parece que depois de estar em Gideon Falls, já não se sai”, diz Claire a certa altura. Confirmamos e em Gideon permanecemos de boa vontade.
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