“Uma Família Inglesa” (Livros do Brasil, 2020 – reedição), de Júlio Dinis, é uma obra imprescindível e fundamental do Romantismo – já numa fase de transição para o Realismo -, género literário em que o autor, profundamente influenciado pela leitura dos grandes escritores ingleses, se insere. Inicialmente publicada em folhetins no Jornal do Porto, foi posteriormente lançada como romance em 1868.
Joaquim Guilherme Gomes Coelho, conhecido pelo pseudónimo de Júlio Dinis, foi um médico e escritor português, de ascendência materna britânica, nascido no Porto em 1839. Viveu grande parte da sua curta vida (morre de tuberculose aos 31 anos de idade) entre o Porto, Ovar e o Douro, sempre em contacto com as suas gentes e costumes, que muito o influenciaram na escrita.
Em 1856, ano em que se manifestaram os primeiros sintomas de tuberculose, escreveu as suas primeiras obras, sobretudo de teatro — “Bolo Quente” e “O Casamento da Condessa de Vila Maior”. Em 1858 escreveu a sua primeira novela, “Justiça de Sua Majestade”, posteriormente incluída em “Serões da Província”.
Em 1869 partiu para a Madeira, onde passou a residir, como era habitual nessa época, para combater a doença, que foi avançando progressivamente. Dois anos depois regressou definitivamente ao continente, onde fez a revisão parcial das provas de ”Fidalgos da Casa Mourisca”, trabalho que foi interrompido pela sua morte, nesse mesmo ano de 1871 – sendo publicado postumamente.
Grande autor do Romantismo, movimento artístico, político e filosófico surgido na Europa nas últimas décadas do século XVIII – e que durou grande parte do século XIX -, que defendia uma estética que valorizava a expressão do sentimento em oposição à valorização da razão, Júlio Dinis escreveu outras obras como “As Pupilas do Senhor Reitor” (1867), “Serões da Província” (1870) ou “Os Fidalgos da Casa Mourisca” (1871).
Centrado em “cenas da vida do Porto” (subtítulo do livro), “Uma Família Inglesa“ conta a história da paixão do jovem herdeiro inglês Carlos Whitestone por Cecília, filha de um modesto guarda-livros de seu pai (o poderoso e ilustre comerciante do bairro ocidental da Cedofeita, Mr. Richard Whitestone), e as transformações e mudanças que a força deste casal vai impor (pessoal e profissionalmente) no seio de uma vetusta e austera família.
A obra, na sua mais representativa forma da escrita romântica, tem um tratamento apurado e estético de temas familiares e quotidianos, narrados ao absoluto detalhe, com anglicismos, exclamações e interpelações ao leitor, denotando uma estrutura de desenvolvimento bastante lento da narrativa mas de resolução engenhosa, numa muito bem delineada e adjectivada forma de escrever. Uma obra de referência do romantismo português.
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