Foi aqui que tudo começou, com uma bastante improvável “Avozinha Gângster” (Porto Editora, 2014), ainda sem marcadores com fitinhas mas já com um diamante para recortar. Depois disto, estávamos então em 2014, foi sempre a abrir, e neste momento são já 18 os livros assinados por David Walliams que chegaram às livrarias nacionais, entre elefantes (mal) adoptados, crianças que não sabem estar, hambúrgueres pouco comestíveis ou animais de estimação pouco próprios para serem levados para a sala de aula.
Ben, o jovem protagonista desta história que sonha um dia tornar-se canalizador profissional, vive com os seus progenitores. Tanto o pai, segurança num supermercado de bairro, como a mãe, que trabalha num salão de manicura, são fanáticos por dança, e não perdem pitada de qualquer concurso cujo mote seja o de dar à anca.
Sempre que os pais têm um programa, quase sempre um derivado ligado à dança, Ben tem de passar a noite em casa da avó, que considera uma grande chata. “A televisão não funciona, só quer jogar Scrabble e, além disso, ela cheira a couve”. Isso sem contar com os puns letais que dispara a um ritmo considerável, parecendo disso nem se dar conta. Também adora livros policiais, e parece ter uma obsessão particular com mafiosos.
Raj, o lojista que é já um marco na bibliografia Walliamsiana, chega-se à frente e, para lá das loucas promoções, joga aqui também no campo dos oráculos, abrindo espaço para o inesperado: “…tenho a certeza de que a tua avó deve ter um segredo ou dois”. O que parece confirmar-se quando, dias mais tarde, Ben abre uma caixa de sortido comemorativa do Jubileu de prata de 1977, nela descobrindo, em vez de bolachas rançosas, todo o tipo de diamantes, anéis, pulseiras, colares e brincos.
Descobre assim que a avó é uma temida gangster, que tem acumulado fortuna ao longo da sua existência, mas também que esta está um pouco doente. O que, mesmo assim, não os impede de arquitectar um roubo que poderá ser o do século – e o da despedida da sua avó do mundo do crime e de todos os mundos. Isto se conseguirem escapar a um vizinho que mete o nariz onde não deve.
Livro inaugural de uma colecção imensa, “A Avozinha Gângster” é um aviso à efemeridade da existência, uma abordagem ao tema da morte, um lembrete para escutarmos e aprendermos com os mais velhos, de os estimarmos como deve ser enquanto por cá andam. Qualquer coisa como o “Help the Aged – ajudem os velhinhos em bom português – contado às crianças.
Help the aged
‘Cause one day you’ll be older too
You might need someone who can pull you through
And if you look very hard
Behind those lines upon their face
You may see where you are headed
And it’s such a lonely place, oh
(Pulp, “Help The Aged” – do disco “This is Hardcore”)
3 Commentários
Um livro maravilhoso
É um livro engraçado e que trás ensinamentos acho que é aconselhável para as crianças acima de 8 porque tem muitos capítulos para ler. É um livro fantástico!!!
Sou uma avó de três netos. Gosto muito de ler e me atualizar. Irei comprar. Foi o meu neto de 09 anos que me apresentou o livro. Encantada!