Para aqueles que andam agora nos seus quarentas, ou aqueles que vieram depois e apanharam por aí alguma reposição enquanto eram de tenra idade, provavelmente darão – ou deram – por si a ler “Os Três Mosqueteiros” (Sextante, 2018) pensando nos moqueteiros do rei Luís XIII com cabeça de cão, tudo à boleia de uma série animada que estreou em Portugal em 1981 e que tinha, como título, “Dartacão e os Três Moscãoteiros”, inspirada neste clássico de aventuras da autoria do senhor Alexandre Dumas.
Romance histórico originalmente publicado em folhetins pelo jornal Le Siècle, em 1844, “Os Três Mosqueteiros” foi o volume inaugural da colecção Biblioteca dos Tesouros, com o selo editorial da Sextante Editora, publicada em capa dura com uma fita-marcador e uma lombada em tecido que transforma estes livros em objectos que parecem chegar de uma outra época, impregnados do espírito clássico. Para ajudar a pensar nos mosqueteiros como sendo humanos, esta edição é servida com as ilustrações de Maurice Leloir, que recriam na perfeição o espírito da época.
A história decorre na França do século XVII, quando nos encontrávamos na fase final do reinado de Luís XIII, da governação de Richelieu e do conflito quentinho com a “vizinha” Inglaterra. No centro da narrativa está um jovem gascão chamado d`Artagnan, que chega a Paris depois de perder a carta de recomendação escrita pelo seu pai, que tinha por fim pedir a ajuda do Senhor de Tréville para que o seu rebento se juntasse às filas dos Mosqueteiros do rei.
Uma entrada em Paris que não corre lá muito bem, pois d`Artagnan arranja forma de, logo no primeiro dia, marcar um duelo triplo e à vez com os três mais reputados mosqueteiros do rei: Athos, Porthos e Aramis – tudo nomes inventados para manter as boas e sobretudo as más reputações -, que d`Artagnan vê como figuras históricas clássicas, considerando “Athos um Aquiles, Porthos um Ajax e Aramis um José”.
Aramis é o mais cotado entre as mulheres, com estilo e boniteza para dar e vender, mas o seu sonho é mesmo seguir a vida religiosa, logo assim que guarde de vez a espada. Athos, o mais velho e que olha para d`Artagnan como um filho, é o coração do grupo, sempre disponível para ajudar os outros e que está quase sempre de copo na mão. Já Porthos é de todos o mais fanfarrão, um tipo alto e fortalhão com tanto de vaidoso como de tolo, alguém com uma bondade inocente que sonha com viver uma vida abastada que não o obrigue assim a fazer grande coisa. Quanto a d`Artagnan, esse, é o cérebro do grupo, um estratega natural que não deixa passar o mais pequeno insulto.
O leitor dará por si numa época cavalheiresca e galante, onde há jogos de bastidores a torto e a direito, os servos e criados são vítimas diárias de bullying e a mínima afronta serve para que se exija em duelo em praça pública – ou um pouco menos às claras para evitar uma ida à Bastilha.
Depois de uma entrada com dois pés esquerdos, cedo d`Artagnan mostra a sua devoção aos mosqueteiros e ao rei, sendo-lhe confiada uma missão pela rainha, Ana de Áustria, que o levará a Londres – juntamente com o trio de mosqueteiros – para uma missão de aspecto suicida, apenas para evitar que sejam descobertos os avanços do Duque de Buckingham – a quem Ana oferece algo de que irá mais tarde precisar para um baile -, cuja corte a Ana lhe custou a aversão de Luís XIII e também de Richelieu – que também tinha um fraquinho pela rainha.
Por este volumoso romance passam também personagens como Milady, a encarnação do mal e perita na arte da dissimulação; Planchet, o criado devoto de d`Artagnan; Bonacieux, um oportunista que avança para onde o vento o empurrar; ou Rochefort, o estiloso espadachim do cardeal. Uma aventura clássica a partir dos manuais de história, com muito romance, espírito altruísta, amizades carregadas e muita astúcia, que acabou por imortalizar um dos mais conhecidos lemas criados na literatura: Um por todos e todos por um – que nesta edição se vê convertido num “Todos por um, um por todos!”.
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