Há heranças e heranças, e aquela que coube em sorte à Ana é uma daquelas a que ninguém, no seu bom juízo, deitaria fora. Mesmo que, para que brilhe como tal, precise de muita dedicação, capacidade de planeamento, entreajuda, uma boa limpeza e, também, de uma sorte danada.
Outrora grandioso, o “Hotel Flamingo” (Oficina do Livro, 2020) está literalmente a cair aos bocados, bem como a motivação dos seus dois trabalhadores não assalariados: o Sr. Urso, um distinto porteiro, e o Sr. Lémi, um lémure recepcionista. A esta dupla, Ana junta uma equipa suficientemente forte para tentar que o Flamingo se aproxime dos padrões do luxuoso Hotel Chiquê, que desde que o Flamingo fechou conquistou o monopólio dos alojamentos: Madame La Porquete, uma chefe de cozinha famosa, com tanto de assustador como de genial; Eva Coala, dinâmica e muito bem-disposta, a quem caberá servir os hóspedes no restaurante; Chio, um velho e muito calado ratinho, com veia de paquete e ascensorista; Hipólita, especialista em limpeza e com um faro incrível para a detecção de pó; e Estela Girafa, uma faz-tudo habilidosa que anda sempre com a caixa-de-ferramentas atrás.
Num livro onde todos os animais estão sarapintados de cor-de-rosa, discutem-se problemas de habitação, arranjam-se soluções de compromisso, mudam-se comportamentos, aprende-se a lidar com pessoas difíceis e faz-se sobressair o que cada um tem de melhor para oferecer, mostrando que o trabalho de equipa pode devolver o esplendor a algo que se encontrava adormecido. Isso e uma trupe de flamingos.
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