Parecia ser difícil superar o efeito surpresa causado com “A Quimera de Praga”, livro que abriu ao leitor a porta de entrada para a trilogia Entre Mundos, um mundo povoado por serafins, humanos e quimeras que recriava, no reino da fantasia, o Shakespeariano “Romeu e Julieta”.
A verdade é que Laini Taylor conseguiu, com “Dias de Sangue e Glória” (Porto Editora, 2015), a proeza de manter o deslumbramento ao nível da escrita, bem como a capacidade de surpreender o leitor numa história feita de desgosto e beleza.
Antiga estudante de arte, Karou encontrou finalmente as respostas que procurava, apesar de estas a terem conduzido ao lado mais negro da sua existência. Em tempos moça de recados de Brimstone, Karou é agora uma ressurrecionista, a única capaz de trazer da morte as quimeras, mantendo acesa a ideia de rebelião contra os anjos.
Após tudo perder, Karou é agora, nas palavras que escreveu a Zuzana, uma «sacerdotisa de um castelo de areia numa terra de poeiras e estrelas», vigiada de muito perto por Thiago, o Lobo Branco, primogénito do Senhor da Guerra e general das forças quimeras, responsável pela primeira morte de Karou quando esta se chamava, ainda, Madrigal. Falsa prisioneira e escrava dissimulada, olhada como a culpada pela queda das quimeras, Karou encontra-se agora profundamente só, confinada a um pequeno quarto com ar de sala de tortura, até que a amizade longínqua vem inesperadamente até ela para a salvar.
Do outro lado da fronteira está Akiva, uma máquina de matar conhecida como o Flagelo das Bestas, um dos muitos Ilegítimos que tem como única missão fazer desaparecer todas as quimeras do planeta. O desejo de vingança, porém, está extinto em Akiva, que depressa terá de decidir de que lado quer estar, mesmo que essa escolha possa recair na deserção e no isolamento. Acompanhado sempre por Litaz e Hazael, os irmãos com que cresceu e aprendeu a sobreviver, Akiva poderá ser a última esperança para Ilegítimos, pondo fim a anos e anos de sofrimento.
“Dias de Sangue e Glória” é o trampolim para a batalha final – e, quem sabe, o conciliador enterrar do machado de guerra -, mas é também a história de como as quimeras, lideradas por dois «monstros velhos», se ergueram da escravatura mais abjecta a fim de derrubar os seus senhores, construindo para si e para os seus mil anos de liberdade. Agora, algures numa imensa caverna debaixo de Eretz, muitas almas aguardam pelo regresso de Karou. No terceiro e último livro saberemos se as conseguiu encontrar.
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