“Um mundo sem confusão e investigação é um mundo triste e aborrecido”. É este o espírito que anima “Para Que Serve?” (Planeta Tangerina, 2020) um livro dos porquês atravessado pelo espírito indie e que não se contenta com respostas encomendadas, decidindo perguntar de volta com acerto e atrevimento.
Trata-se de um texto nascido da conferência “Para que serve a cultura?”, que fez parte da programação do Teatro Luís de Camões/LU.CA/Lisboa, inserido no ciclo “As crianças, um teatro e uma cidade” – corria então o mês de Janeiro de 2019.
O espírito a la Sherlock Holmes começa, desde logo, com uma interrogação pertinente sobre o título do livro: “Uma pergunta que se pergunta muitas vezes, mas… para que serve perguntar para que serve?”. Temos assim uma investigação a preceito, onde há coisas cujo nome já diz para o que servem – como corta-unhas ou saca-rolhas -, coisas que servem para muitas coisas – telemóveis – ou coisas que servem para o que nunca pensaram servir (isto porque as coisas também servem para o que queremos que elas sirvam) – como um lençol-escada ou uma cadeira-escadote.
Porém, no meio disto tudo, existirão coisas que não servem para nada? Uma pergunta que nos ajuda a ter a certeza de que uma coisa existe, mas também a perceber o que uma coisa é. Por outro lado, e só para lançar a confusão, nem sempre é assim com todas as coisas. Por exemplo: para que serve um rinoceronte? Um sonho? Um quadro num museu? Por muito que se pergunte, não é isso que faz dessas coisas o que elas são. Um pouco como acontece com cada um de nós.
Um mergulho na filosofia e no existencialismo, com a assinatura de José Maria Vieira Mendes, que conta com as clássicas ilustrações de Madalena Matoso, que nos oferece um extraordinário jogo de cores, fotos de grupo que nos fazem regressar à escola e bonitos arranjos espaciais. Delicioso, este novo livro dos porquês.
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