Pé de chumbo. Desajeitado. Estátua humana. São muitas as expressões utilizadas para descrever aqueles que, para a dança, têm tanto jeito para jogar ou falar de bola como o Nuno Markl – que, ainda assim, se anda verdadeiramente a esforçar. Quanto a João Fazenda, um dos mais entusiasmantes ilustradores nacionais, atirou-se com muita cor e poucas palavras àquela que é considerada a segunda manifestação artística, ainda que, por aí, ninguém destaque os seus dotes Travoltianos.
Em “Dança”, (Pato Lógico, 2015), livro que integra a colecção Imagens que Contam – lançada em 2013 -, o ilustrador apresenta-nos a um casal, composto por duas metades que são tão diferentes quanto o dia e a noite: ela é sorridente, glamorosa, elegante e, de tão leve, parece flutuar; ele é um cinzentão, que vive num mundo bem compartimentado onde cada gesto ou movimento estão cercados pela previsibilidade.
Ela é apaixonada pela dança, já ele é como se tivesse dois pés direitos (ou esquerdos). Apesar das tentativas feitas para se tentar transformar num par que, pelo menos, não a envergonhe, tudo parece não funcionar, quer as aulas mantidas em modo autodidacta ou a mais séria ida para uma escola de dança.
Porém, quando tudo parece perdido, o geométrico personagem compreende que terá de deixar para trás um mundo traçado a régua e esquadro, passando a desenhar a vida sem a ajuda de ferramentas. E, também, de sapatos que devem pesar toneladas.
As ilustrações de João Fazenda ilustram na perfeição dois universos distintos, alternando pela cor os diferentes estados de espírito, profissões e atitudes perante a vida, convidando o leitor a pôr um disco e a juntar-se à dança. Uma colecção da Pato Lógico que, felizmente, parece estar aí para durar.
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