Doze anos depois da primeira edição, está de regresso “O Livro do Joaquim” (Assírio & Alvim, 2019), obra que abriu a série Cadernos Imperfeitos da Biblioteca “De veres o meu lugar”, título escolhido para a colecção dedicada às obras de Daniel Faria nas Quasi Edições. Um livro cuja longa ausência das livrarias se preenche, agora, com uma belíssima edição em formato de bolso, marcada pela duplicidade: para além da versão impressa habitual, temos também o fac-símile da obra com a letra manuscrita do autor num caderno de linhas.
Segundo escreveu em tempos Eduardo Prado Coelho, esta é uma poesia “que nos agarra pela mão e nos incita a caminhar lado a lado. Que nos aprende a ver como nunca tínhamos visto. Que nos dá abrigo, morada e envolvimento maternal”.
Joaquim
no fim deste livro
talvez seja o teu nome, a única
palavra que deixemos por riscar
(Porto, 11 de Janeiro de 1993)
No posfácio, Francisco Saraiva Fino – a quem cabe o papel de editor – deixa-nos “breves notas de elogio à imperfeição”, falando da sempre difícil decisão de trazer a público um livro íntimo, com muito de bíblico, “destinado à fruição de um único amigo”, que foi redigido entre 1993 e 1996. Daniel Faria viria a falecer em 1999, com 28 anos de idade.
Fala-se do poeta como “o que vê primeiro”, em linhas onde o negrume é uma companhia constante, seja na dor da ausência, da presença da fragilidade, do desejo do impossível, da vontade de partir e de acabar com esta viagem, onde o suicídio – ou a sua ideia – é um fantasma em permanência: “Se eu um dia me suicidar, não há-de ser pela infelicidade da minha vida, mas pela felicidade da morte”.
O elogio maior é o da falha, de alguém que pensa como um adulto e sente como um adolescente, que fala do sentido/objectivo da beleza como “empenhar-se na salvação dos homens e do mundo”, que descreve a sua poesia como “um punhal contra si mesma” e nos mostra a importância da distância nas nossas vidas: “é preciso separar os braços e desunir as mãos, para que possa alcançar-se o equilíbrio”. Ámen, apetece dizer.
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