A temática em Pedro Vieira faz o seu rol de obras distintas das restantes, pois consegue, com mestria, o que outras falham redondamente. No seu novo romance, “O que não pode ser salvo” (Quetzal Editores, 2015), o enredo de tragédia, com um pé em França e outro em Portugal, traz algo de novo ao panorama literário português.
A indefinição de Janine, uma filha de Portugal com comprovativo de residência em França, guia-a até à outra margem de Lisboa, acabando por a enredar numa teia de conflitos, movidos pela paixão (e não pelo amor).
Porque não por amor? É que Janine representa a juventude da primeira década do séc. XXI: corresponde-se por Facebook e por Whatsapp, “twitta” os seus humores e vive para a net. Representa a geração do live fast, die young, de resultados rápidos e eficazes, pouco envolvimento e muita acção. E isso basta-lhe.
Janine é modelo, mas também ruptura. Quebra o único laço que possuía com a sua terra natal, para se aventurar num país que nada lhe dizia. E, no meio de calão, de estrangeirismos e de provérbios portugueses, perde-se e encontra-se a si própria, na figura de dois aliados – Tiago e Mateus -, componentes vitais no desfecho desta clássica tragédia. E, como numa tragédia grega, o Fado não estará do seu lado. Os seus salvadores acabarão por seus os seus anjos da morte.
História equilibrada mas arrojada, “O que não pode ser salvo” ganha muito graças à complexidade das personagens, que são clichés mas também destruidoras de preconceitos. Uma história de amor vivida na Margem Sul com uma pitada – q.b. – de “modernidade”.
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Obrigado pela preferência, Carolina.
Até breve.