Fake news, opinion makers, censura, fanatismo político e religioso são conceitos que fazem o pão nosso de cada dia. Pode a escrita ser a arma mais poderosa numa guerra? Hoje em dia, com as redes sociais nesta aldeia global em que vivemos, é mais verdade do que nunca. Mas e quando não existiam o Twitter, o Facebook e o Youtube? Nomes diferentes, canetas, máquinas de escrever, telégrafos e papel, mas seria realmente a realidade dos anos 70 tão diferente quanto os nossos dias em pleno advento da mass media? E o que dizer do século XIX?
Walnice Nogueira Galvão estaria longe de imaginar que um dia iriam existir Donald Trump, Jair Bolsonaro, Facebook, Twitter e afins quando, no início da década de 70 do século XX, em pleno advento de uma ditadura que usava a imprensa como a sua maior arma para manipular acontecimentos e cabeças, decidiu partir em busca de registos sobre aquele que fora um dos mais sangrentos episódios da História do Brasil: a Guerra de Canudos, no Sertão, em 1897, suposta tentativa de restauração da monarquia.
Partindo da pesquisa de Euclides da Cunha (também ele enviado da imprensa para cobrir a guerra), que daria origem à obra “Os Sertões”, Walnice descobriu que se mudavam os tempos, já as vontades nem por isso.
“A guerra de Canudos (1896-97) é sempre lembrada (…) como o grande massacre que a Jovem República promoveu contra aqueles que pareciam discordar da essência do seu slogan de “ordem e progresso”. A Guerra de Canudos foi também assunto omnipresente na imprensa, que não economizou nas tintas na hora de polarizar a opinião dos seus leitores. Não faltaram manchetes insurgindo a disputa entre República x Império e entre Litoral x Sertão.”
“No Calor da Hora” (Cepe Editora, 2019), agora na sua quarta edição, apresenta “as reportagens especiais, crónicas e entrevistas dos jornais de época, com todos os seus erros, deslizes e infâmias”. No prefácio, Heloisa Murgel Starling deixa a pergunta que não se quer calar: “Existe algo desse passado que não passou?”. Mudam-se os tempos, mudam-se até os países (ou talvez não), aprimoram-se as formas de difusão, mas será que se mudam realmente as vontades? Leia “No Calor da Hora” e responda.
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