É mais uma daquelas séries com o sabor da distopia, que mistura o olhar de Orwell, a classificação genética de Huxley e a invenção de K. Dick. Em Lazarus (Devir, 2019), série que conta com argumento de Greg Rucka, arte de Michael Lark e cores de Santi Arcas, estamos num mundo redefinido, onde as fronteiras deixaram de ser geográficas ou políticas para se transformarem em invisíveis mas marcantes linhas financeiras, onde a riqueza é o poder máximo que se pode almejar.
Nesta sociedade, e abaixo daqueles que mandam em tudo mas vão permanecendo na sombra como Big Brothers, a mais sortuda das ralés pertence a uma das Famílias, que vão gerindo o seu território como se de um pequeno e ditatorial país de tratasse. Os que fornecem serviços às Famílias são bem tratados, tudo o resto é distribuído entre Servos e Desperdício.
A protagonista de Lazarus responde a muitos nomes, recebendo transfusões diárias, tomando comprimidos como quem chupa rebuçados e frequentando consultas de terapia, onde fala das suas muitas mortes e ressurreições: “É como se não estivesse dentro de mim, mas de fora, a assistir, com um vidro pelo meio”.
Em cada Família, há uma pessoa a quem é dado tudo o que de melhor a Família pode oferecer, entre treino, tecnologia, equipamento e tudo aquilo que a ciência apresentar como a última vanguarda, designada por Lazarus – um super ser que, aparentemente, só morre se for cortado em pedacinhos pequenos. Forever é a Lazarus da Família Carlyle, que como qualquer família esconde uma série de ódios, preferências e segredos.
Tudo tem corrido bem na família Lazarus, até que Forever começa a levantar algumas questões éticas, que nem as drogas parecem conseguir afastar. É mais ou menos por esta altura que estala a guerra eterna que os Carlyle vão mantendo com os Morray, que supostamente terão entrado em complexo alheio para roubar sementes, um dos bens mais preciosos à face da terra. Jonah quer entrar a matar, mas é com Forever e bastante diplomacia que o chefe do clã quer resolver a contenda, enviando a filha para negociar.
Nestes dois primeiros volumes, ficamos a conhecer alguns episódios da vida de Forever, desde pequena predestinada a alcançar o impossível, bem como Joe e Bobbie Barret, que fazem parte do Desperdício, e que lutaram durante anos para criar os seus filhos sob o olhar atento da Família Carlyle. Isto antes de ficarem com o seu lar destruído, tendo de procurar sobrevivência na Selecção para Ascensão, a 800 quilómetros de distância. Há ainda um grupo conhecido com Os Livres, terroristas de serviço que tentam criar uma revolução.
Com desenhos de Michael Lark, que estão entre o retrato de um fim do mundo e o policial noir, Lazarus traz-nos uma personagem feminina cativante, numa série distópica que nos apresenta um mundo que já pareceu bem mais distante e fantasioso. Para seguir de perto.
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