“Ou” (Faktoria/Kalandraka, 2019) é um conjunto de treze contos, cuja característica comum é a disjunção – ou pelo cenário, ou pelas personagens serem efémeras, ou pela intensidade ou, simplesmente, por serem breves e muito intensos.
Todos os títulos apresentam uma disjunção, apelando um exercício de lógica ou a um jogo de dilemas, situações e valores – “Mambrú foi para a guerra ou O patriotismo”; “Esaú e Jacob ou A fraternidade”. Contos que incentivam a pensar conceptualmente sobre “fraternidade”; “A fé”, “A Pobreza”; “A escravidão”; “O patriotismo” – ou, simplesmente, a questionar: “Vergonha? Vergonha de quê?”.
São contos que apresentam uma realidade dual – ou será una? -, num jogo onde são despertadas reminiscências adormecidas de fábulas, lendas, tradições bíblicas, mitologia, filosofia, literatura, ou de figuras nossas conhecidas, tais como Sócrates, o filósofo ateniense, os gémeos do livro de Génesis, Esaú e Jacob, ou Herodes, o rei da Judeia.
A capa vermelha, exibindo uma gadanha, sugere-nos a ideia de sangue derramando, de morte, aproximando-nos à cultura popular ou aos cavaleiros do apocalipse. A morte está presente em vários contos e até interage com o leitor: “Falo-vos daqui, do interior da terra, não sei se vocês me conseguem ouvir. Estou morta há mais de dez dias, desde que o monocelha Sempronio nos atirou à vala com um saco de cal em cima”.
Os contos são marcados por alguma jocosidade, humor, sacrifício e compromisso, mas também por alguma ternura: “Sócrates quis terminar a sua vida a olhar para o mar. (…) Quando ficámos frente ao vazio espumoso do precipício, beijou-me a testa e encorajou-me com palavras afectuosas para eu não ter medo.”.
“Ou” é o sétimo título da colecção Confluências, editada por Faktoria, uma chancela da Kalandraka, que se assume como um abraço entre línguas, uma geminação, uma correspondência generosa, uma fantasia editorial em português e em espanhol.
Alejandro Pedregosa é natural de Granada, Espanha. Nasceu em Junho de 1974. O seu primeiro livro, Paisaje Quebrado, publicado em 2004, recebeu o Premio de Novela Corta José Saramago e, em 2018, foi distinguido com o Premio de la Crítica Andaluza para narrativa breve pela publicação de Ou. Em Outubro desse ano fez uma residência literária em Óbidos, ao abrigo da parceria entre a Cidade Literária de Granada. A par da sua actividade como escritor, ministra cursos de escrita criativa e colabora habitualmente em jornais como o Ideal, El Correo ou El Diario Vasco.
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