Afinal, quem somos? Qual a nossa verdadeira história? Numa tarde de Agosto, no ano de 1975, foram ouvidas as palavras mais cruéis que uma filha pode escutar: “ Lamento muito, mas não podes continuar connosco, já te explicámos isso”. “A Filha Devolvida“(Asa, 2019) é história crua, narrada na primeira pessoa, de uma adolescente de treze anos que é devolvida à sua família biológica.
A jovem narradora vive uma vida normal: uma família, educação privilegiada, aulas de ballet, uma melhor amiga chamada Pat, mas um dia tudo muda. Uma mudança radical. Sem entender as verdadeiras razões, é devolvida à sua família biológica, começando aqui a descoberta de um outro mundo. Um mundo de pobreza, violência, caos, ausente de afecto e nada acolhedor. Mas que mundo é este? Que pais são estes? “A mulher que me tinha concebido não se levantou da cadeira”. Uma desconhecida. O pai “saiu do quarto, descalço, bocejando. Apresentou-se de tronco nu. Viu-me, enquanto seguia o aroma a café. Chegaste?”. Tudo parecia incompreensível. O desespero aumenta, no início desta nova vida. Os irmãos parecem estranhos. O irmão mais velho, Vincenzo, admira-a como uma jovem graciosa, mas não como uma irmã. Adriana, a irmã mais nova, com partilha o colchão todas as noites, é a única que a acolhe com alegria. Pouco a pouco, a cumplicidade entre elas aumenta.
O contraste de classes sociais, de modos de ser e de estar e de sentimentos, estão presentes ao longo das duzentas páginas. A leitura impõe-nos uma reflexão sobre as figuras parentais, a construção da identidade e a importância de viver no seio de uma família, bem como a solidão. Em dia de aniversário, o festejo faz-se em silêncio: “Dei os parabéns a mim própria sozinha, quando soou a meia-noite. À tarde, fui à praça e comprei um mil-folhas na única pastelaria da aldeia. Pedi também, uma velinha. A senhora fitou-me com uma expressão estranha e não me cobrou nada, por isso, recebi uma prenda”. A filha devolvida perde-se, encontra-se e ganha forças para recomeçar. Afinal, qual é o nosso lugar?
Donatella Di Pietrantonio é dentista pediátrica e vive em Penne, Itália. Desde os nove anos que se dedica a escrever histórias, fábulas, poemas e romances. O seu primeiro e segundo romances foram ambos premiados, e “A Filha Devolvida”, o seu terceiro romance, foi galardoado com o prémio Campiello, tendo vendido mais de 150 mil exemplares só em Itália. Os direitos foram vendidos para 15 línguas.
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