Nas terras conquistadas pelo grande imperador Genghis Khan, os cavalos são respeitados e edificam a identidade cultural. No deserto, nas estepes ou nas montanhas, estes representam o orgulho do povo Mongol. “A lua cheia ilumina a estepe. Em baixo, no topo de um cabeço, semelhando outros tantos pontos negros, os cavalos selvagens recortam-se no céu noturno”. É assim que tem início “Veloz como o Vento” (Ponto de Fuga, 2019), uma história verdadeira que teve lugar há alguns anos atrás no planalto de Oum-Tchim-Sin, na Mongólia Interior, como nos anuncia Gine Victor no início deste romance juvenil.
“Com que sonha o jovem mongol?“ Com cavalos. Com a liberdade de galopar pelas longas estepes, a perder de vista, num verde-esmeralda cintilante. Com o som dos “cascos da montada”, que “ressoam como companhia sobre o solo gelado“ – ou simplesmente, em trotar ao som de um belíssimo canto. Kumbo, o jovem protagonista, também sonha com cavalos, ansiando por um que obedeça à sua voz, que seja o seu verdadeiro amigo.
Aos oitos anos, Kumbo perdeu a sua família, sendo adoptado por Gengisser, chefe de uma tribo mongol. É no seio desta nova família que conhece a sua amiga Surong, realizando o seu sonho e tornando-se inseparável do pónei negro ao qual chama “Veloz como o vento”.
Através de Kumbo viajamos pela Mongólia, aprendendo mais sobre os nómadas que se instalam e desinstalam nas estepes. Entramos nos gers, “bem aquecido por um fogo de argol”, fruímos da generosidade e, num gesto delicado e com as duas mãos, aceitamos uma taça de leite azedo, conhecendo outros hábitos alimentares. Na primavera, quando os cantores chegam à aldeia, “os nómadas ficam tão satisfeitos, tão felizes com a distração que cantam até de manhãzinha e matam dois carneiros gordos para oferecer um banquete aos artistas”.
Ao longo da leitura somos cativados pelo ritmo das aventuras, pela linguagem rigorosa, atingível e evocativa, pelas descrições e paisagens de um distante e enorme país. “Só estive uma vez na Mongólia e esse país seduziu-me. Encontrei aí um modo de viver simples, sereno que não existe em mais parte nenhuma”.
Gine Victor nasceu na Bélgica em 1909. É jornalista e autora de romances para jovens. “Veloz como o Vento” foi premiado na categoria de melhor livro para a juventude atribuído em França, em 1960, e foi publicado em 1967 em Portugal. A editora Ponto de Fuga recuperou a excitante e impressionante aventura de Kumbo, numa excelente tradução de Herberto Helder e do cuidadoso e elegante arranjo gráfico de Rachel Caiano.
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